domingo, 1 de outubro de 2017

Sobre a ria




Muitos decepcionam-se com a ria, com os seus canais urbanos, e eu não 
os censuro. A decepção é um substantivo esquisito, que existe para perdermos 
o movimento. Mas, talvez estejam a vê-la por fora, apenas, e é preciso esperar 
que se abra; é necessário que os olhos não fiquem suspensos, ou fixos, 
no seu espelho, que nos espelha, ou na sua aparente, mas nossa, imobilidade; 
é necessário investir uns sinceros instantes de atenção para sentir a retribuição 
amorosa da sua alma profunda, generosa, tolerante, compassiva e serena. 
Os encantos da ria têm os seus próprios tempos, as suas distintas dimensões 
e os seus símbolos peculiares, que nos visitam as profundezas do cérebro 
e do espírito, muito além da sua participação plástica, alegórica ou decorativa 
na cidade que se lhe entrega para complementar o real de felicidade. 


 [sobrevoo]



3 comentários:

  1. Nunca ninguém se sente no seu pleno, feliz
    Lindo texto

    Beijo e uma excelente semana

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  2. A contemplação pode levar-nos a um estado de admiração e felicidade, a ver para além do superficial.
    A forma como dispões as palavras, cortas os versos e conduzes a acção é cativante.
    Bjks

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  3. Adorei ver a ria... através do teu belíssimo poema... ou melhor... entendê-la!...
    Beijinhos
    Ana

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