quinta-feira, 1 de março de 2018

Do meu céu




Nos dias em que as palavras imitam, primorosamente, as galinhas 
e ciscam, minuciosamente e com grande afã, as folhas de papel, 
a vida escorre-me mais rápida pelos poros, no meu céu, verde. 
Um céu verde em lume brando, a dizer os contornos de corpos, 
de cujos olhos nascem sóis ardentes, que cegam o arame farpado 
das razões e esgotam os sentidos das palavras, tão distraídas, 
no efémero que fica do efémero que passa; onde há sorrisos 
emboscados a dizer sorrisos que dizem risos e um céu, o meu. 
Porque não haveria, eu, de ter um céu, verde, mesmo verde, ou 
a transitória sensação de o possuir, onde, ainda, se permutam 
as carícias amorosas intemporais, sem rede, sem arnês, sem 
qualquer carta de voo e com pássaros de nomes desconhecidos? 


 [sobrevoo]



2 comentários:

  1. Que bom, ter um céu verde esperança... em que debaixo dele, tudo pode ser possível...
    Adorei este teu céu, tão inspirador... e sendo tão imbuído de esperança... talvez esteja bem próximo, do verdadeiro conceito de... Céu!...
    Beijinho
    Ana

    ResponderEliminar
  2. É muito bom, o poema. Resumidamente, sinto este céu como a vida em si (a vida, ponto! :) ), com a inerente componente sensorial e racional.
    Bjks
    :)

    ResponderEliminar

Obrigado, pelo seu comentário!