terça-feira, 3 de agosto de 2021

Fluição




O meu cão vê mal e é muito teimoso, 
Assim como o teu amor. 
Respira, liberta-te desse peso dengoso. 
Não sentes como te sufocas 
E a quem tanto queres feliz? 
A tua liberdade reza por ti 
E a confiança brama sob os teus pés. 
Deixa fluir, deixa fluir. Ah, deixa fluir. 
Tropeçaste já tantas vezes. Tantas. 
Tropeçaras outra mais e, talvez, agora. 
Tropeçamos todos. Não vês como eu tropeço? 
Sai dessas horas indecisas e febris, 
Dessas estórias em que a tua vida não é a tua, 
É apenas uma suposição imprecisa e titubeante, 
Que te deixa, e a todos, uma possibilidade de agonia, 
Onde já não és tu, onde a tua vida é a de outra; 
Onde todos se desigualam do que são; 
Onde não param de crescer os enredos e os monstros, 
Ou os unicórnios e os lendários finais felizes. 
Ah, deixa fluir. Deixa fluir, fluir. Flui. 
O meu cão vê mal e é muito teimoso. 


[miscelânea] 
[01 de agosto de 2021] 



2 comentários:

  1. :)
    Fluição, que é uma boa fruição.
    Por vezes perdemo-nos em suposições que não nos acrescentam, nem ajudam, numa teimosia quase cega. Lindo!
    Bjks

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  2. Nesta conjuntura tão estranha... será mesmo o que faz mais sentido... deixarmo-nos ir... até porque se questionamos tudo... continuamos a ver muita coisa, sem qualquer sentido...
    Mas eu teimosamente... insisto em ir vendo, mesmo corrente abaixo, para que lado escolho ir...
    Mais um poema, muitíssimo bem concebido! Beijinho
    Ana

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