terça-feira, 2 de junho de 2015

em vida


setúbal, a partir de palmela, portugal




um rouxinol acorda-me de madrugada 
já afinou toda a sua típica variedade 
de trinados e assobios e gorgolejos 
alegra-me embora eu fique ensonado 

estou a olhar para o horizonte 
do mar e para o escrito à mão 
sem questionar sobre qual será 
o mais real ou o passado 

compreendo muitas das suas diferenças 
e aceito uma profusão de outras 
e ainda outras intangíveis 
mas que podem ou não existir 
nem que seja num fundo de esperança 
ou num profundo suspiro abandonado 

gostaria que pudesses cheirar o poema 
não tem nem tenho mais do que o afecto 
e as mesmas palavras 
demorada e lentamente 
num princípio da recordação 
atrás das árvores da saudade 
ou envoltos numa onda de mar abismado 

não me apetece litigar 
não refuto 
não quero corrigir qualquer amor 
mesmo ao chegar com um fim anunciado 

quero simplesmente ser 
depois disso só isso eu fui 
um ser humano que mictou e obrou 
e que voo tão livremente 
quanto a imaginação lho permitiu 
e por vezes em vida e apaixonado… 




 [livro aberto]



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