quinta-feira, 1 de junho de 2017

Intermináveis



Há poemas que não tem fim, que não se deixam concluir, 
e que partem, sem partir, ainda com as raízes dentro de nós;
que nos deixam a olhar para o horizonte, como quem procura 
o amor ausente, um qualquer horizonte, mesmo que um horizonte 
confinado ao tecto onde despontam os bolores da habitação; 
que nos tocam o transcendente do odor e dos sons das imagens 
que se debatem para adquirir os contornos que deixaram de ser 
concretos e que vivem no limiar da realidade e dos sentidos; 
que adquirem a forma de uma melodia familiar e antiga, difusa, 
mas como que intrínseca à exactidão e à certeza da existência. 
São, sobretudo, os mais ruidosos e reproduzem-se no nosso silêncio. 


 [sobrevoo]



3 comentários:

  1. Assim como algumas pessoas. Lindo!
    Bjks

    ResponderEliminar
  2. E haverá poemas... que conseguem verbalizar tão bem, os bolores da alma... porque a incerteza e a insatisfação, fazem parte da alma humana... numa dimensão, por vezes interminável...
    Mais um trabalho fantástico... com uma temática... que daria pano para mangas, como se costuma dizer...
    Beijinhos
    Ana

    ResponderEliminar
  3. Conheci seu blog através do blog da Helena, o "Caos". Gostei e estou seguindo...
    Este texto me deu uma sensação boa de partida, poie é exatamente isso que sinto com relação aos textos que escrevo; parece que me deixaram e lembro sempre deles assim como lembro de minha mãe, meu pai e amigos que partiram. Lindo, lindo demais! Não sei se me expressei bem, espero que sim.
    Abraços!

    ResponderEliminar

Obrigado, pelo seu comentário!