quinta-feira, 1 de novembro de 2018

A figura




Assisti à chegada da noite com as suas coisas de inverno, 
ainda em outubro, ainda a tempo de um gesto perfeito. 
Mas, o mundo não pára, o trabalho não avança, 
nem mesmo a poesia melhora, só porque chega, 
abruptamente, a sua forma precisa; a sua urgência 
caucionada; o seu poder animal: tarde, já noite. 
  
Eu não quero esperar mais; contar mais; 
sentar-me na sensualidade das nuvens de Aveiro; 
aquecer no esquecimento; subir ou descer, ainda. 
Não quero ser a vez, a palavra, a tinta ou o papel; 
nem a superfície, ou a matéria, para os dedos do frio 
que se propaga na amálgama de todo este espaço, 
que sabe dizer o silêncio que eu espelho 
e onde ganho a paz, a força da paz, a fome da paz. 


 [miscelânea]




2 comentários:

  1. Profundidade e talento, no seu melhor, em mais uma belo momento poético...
    Adorei este anoitecer que partilhas... que não nos transmite angustia... mas uma imensa paz... e a necessidade de estarmos com... e em nós mesmos...
    Beijinho
    Ana

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  2. É tão bom sentir a paz e é, no fundo, paz e agrado, o que sinto na ânsia e no turbilhão deste poema. Parabéns!
    Bjks

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