sexta-feira, 20 de agosto de 2021

Recordação previsível

  
 
 
Quantas mil palavras terei de escrever, 
– Ou reservar, silenciar, suprimir – 
Para te libertar dessa âncora de tristeza 
Que te atrasa os dias e que tentas arrastar, só, 
Numa insistência, creio que, cega e surda? 
 
Tanto te pesa o ar, o som, a companhia, o silêncio, 
Os pensamentos, a solidão, o corpo, a alma… 
Tanto te ocupas com nada, para nada, 
Ou para estar só a estar só, ou de fora da vida. 
 
Quantos relógios terei de ser, ou apeadeiros, 
Para que possas ter saudades desconhecidas, 
Para que abandones essas dores completas? 
Porque tanto te pesa? O quê mais te pesa? 
É Amor, que procuras, e aparenta não existir? 
 
Poderemos ficar, senão afastados, apenas 
À beirinha desse abismo de mistérios, 
Dessa escarpa de desilusão, sem inclinar. 
A minha sensibilidade abstrata tem vertigens, 
Muito concretas, e eu quero ser mais, 
Mais do que uma fatigada recordação. 
 
 
 [miscelânea] 
 [19 de agosto de 2021] 
 
 
 

2 comentários:

  1. Já tinha saudades desta tua densidade emocional, que se experiencia em cada um dos teus fantásticos poemas!
    E que bom, que estás de volta... já não pertencendo ao mundo das recordações e da ausência... mas da inspiradora presença, de novo, aqui pela blogosfera...
    Finalmente só hoje consegui passar por aqui... esta pandemia veio virar o meu mundo do avesso, e com uma pessoa de alto risco por perto, com insuficiências cardíacas e respiratórias... mesmo com vacinas, todos os cuidados continuam a ser poucos, carecendo de muitas medidas de prevenção diárias, que me tomam muito do meu tempo... mas das quais não dá para abdicar... pois até ver... têm evitado sobressaltos... mas como este Delta, também não nos vem facilitar a vida... estou de novo com os cuidados máximos que tive em Janeiro, até que a terceira dose, chegue aqui à senhora dona mãe...
    Estimo que te encontres bem, assim como todos os teus, Henrique!
    Beijinhos! Continuação de um óptimo domingo! Mais daqui a pouco, conto vir aqui espreitar o que mais recentemente se me escapou!...
    Ana

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  2. Ando assoberbada e as palavras fogem-me. Foi muito bom ler este poema, afastou-me do "meu precipício" e levantou-me a "âncora".
    Bjks :)

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