terça-feira, 6 de dezembro de 2011

O dia sibila

Os meus tumultos, os teus insultos,
Não mudam o curso da existência;
Da minha existência rudimentar.
A tua noite avoluma os meus vultos
Em sombras que se projectam na tua demência;
Em vagas que só existem no teu mar.
As minhas amarras resistem, teimosas,
Às investidas dos elementos e prosas.

Sinto-me amarrado a uma vida maravilhosa.
Gosto de viver; de separar as coisas importantes.
Qualquer sorriso apazigua e ameniza
A minha hipotética ira ou dor preguiçosa.
Aprecio, mesmo que breves, os momentos de paz;
As alegrias de qualquer pequena brisa;
As lacerações, agora insignificantes;
As liberdades tímidas e titubeantes.

Seco, como roupa no estendal.
Espero ser recolhido, talvez, passado, dobrado, arrumado.
Espero pelo passeio, pela rua;
O ar, que, de novo, me movimenta, leva o sinal.



7 comentários:

  1. Hum... Então vamos lá a ver. Recolher, passar com muito carinho. Dobrar com extremo cuidado, arrumar...Não sei? Talvez como costumo fazer com uns sabonetes perfumados no meio para quando "servir" vir aquele perfume, a frescura... Que pode ser esse ar que de novo te movimente perfumado e terno no rosto de quem passa, emitindo sinais aos corações e povoando as mentes de palavras e poesia de extrema beleza. Adorei o poema está lindo. Um grande beijinho amigo e não leves a mal se "brinquei" no passar e dobrar...Mas realmente tu escreves e nós ficamos a flutuar como roupa limpa e pura ao vento. Lindo!

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  2. Porque me fez-me lembrar sem ter muito (ou não ter mesmo nada) a ver:

    Vou comprar um tear
    E compor, fio a fio
    Em silêncio, com cuidado
    Qual mulher de guerreiro
    Um enorme manto bordado
    Todos os dias tecido
    E à noite desmanchado
    Para nunca ser inteiro
    E jamais estar terminado

    E nesse trabalho morto e vazio
    De fazer e desfazer
    Fio a fio
    O enorme manto dobrado
    Ainda e sempre por bordar
    As minhas mãos ocupadas
    Deixarão de ter frio

    O meu espírito ausente
    Nesse inútil e doce torpor
    De fazer e desfazer constantemente
    Fio a fio o nosso amor
    Vai embalar-me sozinha
    Na saudade e no desejo
    E a minha boca vai lembrar
    Como se fosse hoje ainda
    O nosso último beijo.


    ;)

    Talvez me tenha lembrado disto pelo "passado, dobrado, arrumado" aquele trabalho de fazer e desfazer diário. Ago que se cuida, com afinco. Algo (alguém) de que gostamos.

    Verdemilho inpirava-te nessa altura :)

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  3. Olá, Noctívaga!
    Claro que não te levo a mal. Agradeço-te o comentário generoso e a amizade.
    Beijinhos

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  4. Sol:
    Olá!
    (Estás - estavas - com fome? [Comer as letras] [:)] )
    Verdemilho inspirou-me, enquanto "matava" o tempo à espera, numa pastelaria, mais propriamente (e, agora o momento parvo; brincadeira) e não esperava por uma empregada (passar, dobrar, arrumar...) ;)
    Embora o conteúdo do poema que colocaste no comentário me seja familiar, não me recordo de o ter lido antes. Gostei de o ler.
    Beijinhos

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  5. Esperavas pela empregada ou não esperavas pela empregada? :)

    A velocidade do meu pensamento é superior à dos dedos, daí eu comer demasiadas vezes palavras, silabas. Na maioria das vezes nem dou por isso, eu leio como quis escrever, e não como está escrito :)

    Manias...

    Não sei o autor do poema, transcrevi-o de um... (como hei-de chamar aquilo)... Num livro que comprei vinha incluido um bloco com umas notas sobre a autora, umas opiniões de diversas pessoas e este poema não identificado.

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  6. Também me acontece, e por mais que leia, e releia, não vejo nada de errado...

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