quarta-feira, 2 de outubro de 2013

E hoje… (XLVII)

     ... a senhora estava encostada à parede, com todos os sonhos feridos, doentes; com algumas nódoas negras marcadas no rosto e na alma. Mas não queria ajuda. Queria chorar e sentir a chuva, como se esta, chuva, a acariciasse. Foi assim que eu, em estado plasmático, a encontrei, já em estado líquido.
  
     Eu não fumo e não posso dar um cigarro, que não tenho. Eu tinha, e tenho, apenas, como que um ombro de compreensão, um suporte sociável, e não procurava, nem procuro, nada. Apenas posso emprestar esse ombro e tentar encaminhar algumas criaturas para um rumo onde possam, um dia, encontrar o Sol, num caminho que queiram trilhar. Não faço, nem transporto, milagres. Pinto e retoco ideias, emoções, afectos, sonhos e palavras. Sou um estado tão simples, de matéria, tão insuficiente e fluido...


   

4 comentários:

  1. Henrique,
    Encantada pela leitura das suas palavras.

    Um laço saudoso e, de admiração de mim para si.
    Ana

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  2. Podes pensar que és só isso, mas só isso é tanto, é o que o ser humano precisa e quase nunca recebe,, ao ler o teu escrito, lembrei-me de algo parecido que vi no Porto á uns anos, uma jovem sentada no chão que não quis ajuda, mas os olhos dela vão para sempre ficar gravados em mim,, o desespero e ao mesmo tempo a sensação de já não existir, pode não fazer sentido, mas foi algo forte demais que não esqueço
    beijinhos

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  3. Quem tem "ombro de compreensão," e se sente " um suporte sociável" jamais será "um estado tão simples, de matéria, tão insuficiente e fluido".
    Escreve muito bem Henrique. É sempre um prazer vir ao seu sítio.
    Abraço

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