sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Neste lugar sem data


Demoro-me secretamente no que não existe
Nada há a perder ou a ganhar
O amor deixa de o ser e agora é
Nas palavras que podem sonhar
E silêncios feitos de essências discretas
Como fortalezas de bruma
Direitos que decretam direitos
Que consentem devaneios
Em artigos de liberdade
Como mensageiros de polissemia

Primeiro pensei era um pesadelo
Crente num sentimento sem alma
Bonito e corajoso por fora
Decrépito e senil por dentro
Mas depois esmaguei-me na realidade
De uma afirmação inconfidente
Que deixa uma sílaba
E vejo os seixos nos meus olhos
A darem-me um caminho
Que nem próximo me vê

Agora é mais fácil saber onde começar
Todos os erros me fizeram crescer
Eu sou apenas um homem que sempre foi
Com um punhado de palavras
De um natural ambíguo
Que se libertaram da pontuação
Num gesto animal de fadiga
E ficarão assim para a eternidade
Vocábulos de múltiplas identidades
Sensações e sentimentos imperfeitos
Em pontos que estimulam o lapso
Com gemidos de bem-estar e prazer

Eu espero veladamente sem ti
Estou em abraços com poemas
Um saber e calar pausadamente
Capturado num sonho que é real
E é uma visão e conceito e som e gosto e tacto
É uma permanente metáfora
É um universo em recriação
É um disparate de sentidos
Mas não é posse
Vive e convive na minha alma
Dá-me esperança
Descansa e por cá fica


10 comentários:

  1. Henrique,
    O seu "Neste lugar sem data" é ternamente emotivo.
    Palavras sentidas e, escritas intrinsecamente de sentimentos que vivem e, convivem.

    Foi um prazer a leitura.
    Ana

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  2. pleno de sentires é a minha analise deste trabalho
    mais um belíssimo poema
    um bom final de semana.-
    um beijo

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  3. Muito bonito, Rike!
    Não irradia alegria, mas não é triste, é sóbrio.
    Beijinhos.

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  4. o que não existe, existe...
    nas palavras que escreves, nos sonhos que tens,no aprendizado ao longo do caminho e nesse teu amor que não o sendo, é. tudo existe porque tu existes.
    beijinhos

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    Respostas
    1. Já estava "para aqui" a filosofar... Mas o que importa é que, talvez, eu me invente!
      Obrigado!
      Beijinho

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