sexta-feira, 11 de maio de 2012

Práxis



     Mais dois passos e posso entrar em casa. Afago o ânimo cansado. Algumas metáforas permanecem assustadas, a um canto, no bolso, agarradas as chaves e, no entanto, lembram a sua natureza e emitem um sussurro. O sussurro de quem avisou; o sussurro da providência descuidada.

     Passam próximo o enlace de um abraço que parte, montado num desejo arrancado, e outros abraços que fogem a pé.

     Entro. Regresso. Os devaneios acumulam-se com o pó dos sonhos, sobre os afectos imobilizados, móveis que não escondem o seu princípio e serventia. Algumas emoções brincam, enquanto os olhos se adaptam à luz dos acontecimentos, que se propaga após ter accionado o interruptor, instalado na memória viva de uma parede que se quer resistente. E lá estão os sentidos e os sentimentos descalços, sentados no silêncio da dor.

     O rouco da garganta, entre o modo e o consolo, saúda os mistérios e a alucinação das carícias devotas. Há metáforas de contentamento espalhadas por toda a casa. Digo.

     A cozinha espera pela confecção dos discernimentos; pela fala. A comida vai alimentar o corpo da esperança, da vontade, do humor, da coragem, do génio, e bebe-se uma conversa seca.

     Lavar os dentes que mastigaram os critérios e os juízos. E deitar, sobre as horas, sobre o dia. O sono virá mais tarde.

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