Sentado, com se
estivesse numa fotografia, ajudo
as palavras a dobrarem-se
pelo sentido, feitas de
outras palavras, por
outras palavras, sem se dizerem
a si próprias,
propriamente. O poema absorve-as e,
através delas ou
por elas, ganha a forma, o modo,
o estado, para habitar,
primeiro, a mente e, depois, um
qualquer ponto
indistinto entre a possibilidade e a imaginação.
Convém, ao poema,
servir de trampolim ou de agente
que proporciona o
salto. O seu conjunto de palavras
funciona, assim, como
força de propulsão e fica liberto
do salto
fotográfico ou abstracto, ao qual só ele próprio
teria acesso e ele
mesmo encerraria, como uma imagem
estática e abandonada
de si ou do seu próprio sono.
Ao poema convém que
as palavras saltem, também,
mesmo que de
indiferença em indiferença, já na memória,
que não é a sua;
noutros sentimentos, noutros afectos
noutras sensações, noutras
histórias, noutras ilusões.
O poema gosta de
passar e agitar as folhas, as cortinas,
as almas; de acordar
os, ou de se enroscar nos, sítios
mais íntimos, onde se
sonham as coisas que não se dizem;
de mostrar os momentos
que sabe não se encontrarem
em si ou fora de si,
já não puramente factos ou fantasias,
mas: poesia.
[massivo]
A verdadeira essência da poesia... revelada de uma forma brilhante!...
ResponderEliminarAdorei este poema... que faz uma desconstrução construtiva... ao âmago da poesia...
Beijinhos
Ana