sábado, 17 de novembro de 2012

Subo


Liberto versos que rimam
E palavras que te estimam.
Partem de mim várias ruas que são rios
E rios que são ruas,
Palavras simples e nuas,
E nuas camadas de desvios
Que contornam os baixios.
Segredam pontes que são tuas,
Que a ria espelha o meu reflexo
E que o segreda ao mar perplexo.

Salvo versos sem rima,
De várias cores.
Partem de mim vários rios,
E ruas, sem nome.
A ria, que já não é,
Olha-me com compaixão.
Dei-lhe a minha palavra de honra,
Dei-lhe as palavras de trabalho,
As palavras de obrigação,
As palavras de devoção perdida,
As palavras de lazer,
As palavras avulsas, avulso.
Dei-lhe as palavras adormecidas.
Dei-lhe as palavras da manhã,
Da tarde,
Da noite.
Dei-lhe as palavras que se perdem,
Que perdem o sentido,
Que perdem significado.
E dei-lhe palavras de um género de amor.
Se hoje fosse eu a ria,
Que sou,
Poderia não ter mais palavras,
Mas tenho,
E dedico-as ao Sol, à Lua
E a ti, amor, e amor.


10 comentários:

  1. Penso que as ausências nunca são um capricho mas uma necessidade,há altura que as palavras de tão enroladas não saem, mas as tuas tem uma beleza muito especial e é difícil a privação de as ler e depois quem te segue também fica preocupada com o (menino).
    A ria tem disso, ela sabe escutar,e na sua acalmia não julga não opina e deixa sereno quem a procura senti isso na semana passada e sempre que a visito.
    É bom sentir as palavras, poder e saber a quem podem e devem ser dedicadas.
    beijinhos.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Estiveste aqui e a ria não me disse nada...

      Sim, quando as palavras saem demasiadamente enroladas impõe-se uma ausência. E a ria é uma excelente confidente. Ajuda sempre a encontrar as respostas que já estão dentro de nós. É aí que elas estão, muitas vezes.
      És muito gentil, Luna!
      Beijinho

      Eliminar
    2. [Sorrio, como sorriem os regatados para a realidade. É para ela, realidade, que volto, sem ironia.]
      Sim, e nem a ria teria que fazê-lo: falar ou contar.

      Eliminar
    3. agora sou eu que sorrio e em forma de brincadeira digo que é uma pena que a ria seja muda.

      Eliminar
  2. Eu agora fico embaraçada!... Reclamo a ausência e fico em silêncio.
    A verdade é que não sei bem o que dizer, Henrique. Eu sinto-me a repetir o que digo. É lindo!
    Um beijo.

    ResponderEliminar
  3. As palavras são o transporte, o que une(como as pontes) as pessoas. Adorei...

    Beijo grande.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Por vezes são o único meio para estar, para chegar, para ser ou para ter.
      Obrigado!
      Beijinho

      Eliminar

Obrigado, pelo seu comentário!