quarta-feira, 9 de setembro de 2015

a companhia das gralhas


cáceres | espanha




na monumentalidade de cáceres 
deixei as minhas ruínas arrumadas 
como poeiras de um tempo antigo 
todas as que trazia comigo 
junto com a palavra criadora para 
companhia da gralha-de-nuca-cinzenta 
e da cegonha-branca 

nesses dias deus era o poeta 
a poesia sustinha os atlantes 
e todas as demais pedras e calhaus 
numa argamassa de bons e sentidos afectos 
e continuei a adiar-me 
a apascentar novos sonhos pois 
tudo o que tinha era o véu do céu 

a pele susteve o sol e a alma a escuridão 
a carne albergava verbos transitivos 
e a hemorragia do amor descia a judiaria 
abraçando romanos despojados de fermento 
acorriam todos os povos à ladeira do tempo 
e éramos todos fiéis e chuva e panorama 
capazes de voar para além de qualquer maldição 



[a ilha]



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