Amor, meu amor, meu Amor
O meu Amor pode ser um rio, um mar, um oceano;
Pode ser tudo, de tudo e bom,
Magia, arte e dom;
E pode ser, simples, nunca um engano.
Quem serás tu, afinal,
Que, amor, levas o meu Amor como sinal?
Amor, o meu Amor não cai do céu,
Embora possa ser o Sol, a chuva, a neve;
Pode ser pesado e leve;
Não tem perder, ganhar, nem é troféu,
Porque não é um jogo,
E,não sendo o lume, é o próprio fogo.
Meu amor, o meu amor é o nosso,
E nosso, mesmo debaixo do chão ou num claro destroço;
É, também, a água, o ar, a terra;
É pão e fome;
Sacia e consome;
É tudo e está em tudo o que de mais complexo, ou
elementar, encerra.
Mas não é conflito,
Ainda que seja um grito.
Meu amor, amor, o meu Amor não é meu, crê.
É a essência que a todos unifica;
Somos nós, mas isso não impõe ou significa
Que o pouco que pouco somos a todos se dê;
Que todos se incluam nesse nosso laço;
Que todos se juntem no nosso beijo e abraço.
O meu Amor, amor, não magoa,
Ainda que na aparência doa,
E, em todo o acaso, olha para cima,
Não quero que ele tombe na estrada,
Porque também anda nas nuvens, ao som de uma balada.
Vai, juntamente, com ele, pelo chão, de mão dada,
Ou voa, numa prosa ou mesmo num verso sem rima;
Não tem preço, amor, o meu Amor,
Ainda que dado e o seja sempre, não esqueças o seu valor.
Amor, meu amor, o Amor, sendo tudo, até zoada,
Preceito, etiqueta ou rodapé,
O que não sabemos, sem ser a abundante imitação sem fé,
Também é, e também contém, grande parte do «nada».