quarta-feira, 29 de maio de 2013

Ampla via


ria/laguna de Aveiro

Patente o apontamento clemente, diverso,
O cheiro, o gosto, o som e o brilho a poesia.
Um sorriso bondoso e aliado, em verso,
Da querença dedicada e disseminada pela ria,
Para a Lua, num fulgir de magnificência imerso.

Encontro uma palavra que não reconheço.
Dizem que, também tu, te sentes perdida,
Neste presente subjectivo e relativo da vida,
Que revolve em coisas que desconheço
E numa intrépida e célere investida.
Também eu creio que enlouqueço.



sexta-feira, 24 de maio de 2013

as marés


ria/laguna de Aveiro

de uma memória a sobra
que contradita a causa e a obra
na neblina de uma porta fechada
que aguarda do sono a chegada

provém genuinamente da luz da Lua
estes desejos de rua
provêem sentimentos em forma de energia
num ensejo de satisfação em alegoria
provem a formação fulgente de apego
que arrebata o corpo do sossego

protestam os estímulos dos sentidos
pelos frios dos frios desconhecidos
oriundos das ondas de intuitos
dos mares de paradigmas fortuitos



terça-feira, 21 de maio de 2013

Articulação


ria/laguna de Aveiro


Por entre os dedos de uma lágrima de felicidade,
O silêncio do amor, que brinca na areia
Com os búzios que o mar lhe oferece,
Solta a brisa que o prende e saúda a noite.
Brisa que me afaga o corpo dormente,
Dormente e parte da noite que cumprimenta
O silêncio do amor, que brinca com parte da razão,
Sobre a areia que é o meu percurso,
Banhado, tocado e beijado pelo abismo que nos separa.



segunda-feira, 20 de maio de 2013

Escassamente eu


laguna/ria de Aveiro


Há pequenos rebentos de palavras que abrolham,
Absortos, e que vêem para além da linha do horizonte.
Rogam pela naturalidade do verbo,
Alimento das coisas simples e libertas,
Como um punhado de sonhos e a Morte,
Por entre as folhas caídas de um poema esquecido
E dentro do labirinto permanente e persistente
De alheios arbítrios e aspirações,
Formadas por argila amassada e doutrinas.
Mas não passam da rua vagante, inflexível
E intransponível às concepções de veículo.
Transporto coisas acessíveis à minha simplicidade,
Sou apenas eu, precisem ou não precisem.



quinta-feira, 16 de maio de 2013

Preposição

  

O lugar, esconso, perdeu o entendimento,
No tédio de um alusivo porquê,
E tomou o verso hesitante,
Que eu queria incorporar no vento
E no mar, sem rotina, sem dimensão,
Com vocábulos sem bocas e sem raízes;
Sem as congeminações dos espectros das juras;
Sem as lamúrias do querer.
Provavelmente, achar-me-ão em demência,
Mas não pode o querer desejar, sem apetecer.
Há um certo quê, de um relativo não sei o quê,
E de aparente inconstância instantânea,
Conquistado por anjos que mergulham
Em sombras de sonhos de frases.
Por isso, enquanto escrevo ajustes de poema,
Deixo espaços para o que não tem palavras,
Como, mas não só, para a melodia que me cinge;
Como para os sentimentos que me erguem.



terça-feira, 14 de maio de 2013

comparência





e dito cai o termo que não partilha as ruas
eu te quero e como
precursão do descanso afável em âmago
quero e como tu
na água salobre cultivável da ria o néon
que quero eu e quero-te
mais turbo corre o rio afluente influente
entrar como quero
move-se o publicitário sinal hábil à entrada
eu como te quero
ventura cai que por aí eu não vou em tempo
não é o meu querer razão
e dita cai a palavra que percorre as luas




segunda-feira, 13 de maio de 2013

Palavras como eu



vagueira

  

Ao Sol, junto ao mar
(Formado pelos mesmos significados de coragens e medos),
As palavras, como eu,
Flutuam em sonhos, que ninguém vê,
Compostas pela mesma matéria
Que forma a areia e os rochedos.
Toleram as vagas e sustentam os horizontes,
Em alicerces de sentimentos e razões.
Razões que esgrimem sentimentos
E sentimentos que se travam de razões,
Em palavras como eu.



quarta-feira, 8 de maio de 2013

Fundamentação


meia laranja



Uma notícia sem temas
E, num corredor, as promessas mudas,
As realidades desnudas,
Uma e outra em morfemas,
E pequenos poemas.

Passei ao teu lado,
Com um sorriso rouco,
Com um sorriso louco,
Perante o teu olhar alheado
E acompanhado.

Coração repartido,
Eras tão grande que não cabias na Lua,
Na minha vida que era tua,
E eu noutra margem, sumido,
Em poemas de amor assumido,
Avanço para a rua.

E nem distante, nem próximo, o deserto.
O sol-poente desperta-me da dormência
E dessa factual ciência,
Em que muitos aparentam saber o que é certo,
A constatação do rumo incerto.



Portalegre [em: «O Humor e a Cidade - Portalegre»]


O Humor e a Cidade - Portalegre
  

Aveiro [em: «O Humor e a Cidade - Aveiro»]



O Humor e a Cidade - Aveiro


terça-feira, 7 de maio de 2013

Consórcio



Vou juntar o mar, revolto e amigo;
A laguna que se faz ria;
A água doce de fontes, de lagos, de rios,
De ribeiras, valas e torrentes;
A escuridão e a luz;
O frio e o calor;
As cores;
Todo o reino vegetal;
Animais, pássaros, peixes e insectos…
Todo o reino animal;
Afectos, sentimentos, sentidos, sensações e vontades;
Os amigos e, se existirem, os não amigos;
As palavras,
Sons e silêncios, de várias naturezas.
Vou juntar a minha natureza,
A natureza com que sonhei
E toda a Natureza,
E hoje vou inventar um amor,
O amor que me tem inventado,
Sem sucesso!


  [18 de Abril de 2013]