quinta-feira, 3 de agosto de 2017

Acidental



Que mais poderia eu fazer? A bibliotecária castigou-me,
(e justamente) sem castigar, com o olhar, fatigado, já no próximo
ano, e com a culpa de todos os males a cair, pesada, no colo
do programa informático, pelo atraso, de um dia, na entrega dos livros.
Um dia de castigo. Já não podia regressar a casa, como pessoa,
e distinguir-me do eclipse que ganha a imprecisa dimensão da ausência.
Fiquei a ler, demoradamente, horizontes e as estradas
de embarcações que representam vidas e passados improváveis.
É a vista do fim de tarde: a ria urbana tão cheia de gente
eventual e os flamingos tomam plena posse da cidade selvagem.
Nenhum moliceiro, ou batel, me poderá levar tão longe
que me tire daqui, nem deste tempo emprestado.


 [sobrevoo]



2 comentários:

Obrigado, pelo seu comentário!