Finjo o olhar. Não há uma sombra. Há um resto de papel
para os inúmeros caminhos que voam contra o peito cheio
de pássaros. É preciso limpá-lo, o peito, antes do vento.
A hora é líquida e a tarde: indisciplinada e sem
matrícula.
Apesar de tudo, há uma réstia de esperança e de
felicidade.
Já me sinto a entranhar no corpo de palavras da noite. Não,
não é uma réstia, é como que um manancial de
possibilidades:
um livro de contos e dois livros de poesia. A evasão
perfeita,
de momento, ou a ilusão de uma cura vertiginosa e indubitável.
[sobrevoo]
Fingir um furtivo olhar
ResponderEliminarÉ como o olhar de esguelha
Que sai mais deixa a centelha
De luz no vácuo do ar.
Em teu rasante voar
Sobrevoas sobre a telha
Que acoberta e espelha
A luz do terno luar.
A hora líquida arde
Sob o sol claro da tarde
Como um cavaco de lenha
Feito em pintura por arte
E reflete em toda parte,
Antes que a noite, pois, venha.
Grande abraço. Laerte.
Talvez o teu poema mais melancólico dos últimos tempos, é assim que o sinto. Entendo o fingir do olhar como um estado "induzido" de alheamento. A falta de sombra como um sentimento de exposição, de se estar exposto... Os pássaros como uma associação a penas, punição, lamento, sofrimento, que levam à hora líquida, como lágrimas... Mas, há uma saída à vista, que pode ser um paliativo: A leitura, a companhia dos livros e dos seus personagens e histórias. Isto sou eu a interpretar. :) Mas não é desagradável, encontro-lhe beleza e harmonia. Gosto, sim!
ResponderEliminarBjks