terça-feira, 28 de agosto de 2012

Vou

No dorso de um sonho de água
Montada numa vontade de brisa,
No momento em que não há Lua ou Sol,
Solto um brado de azul
E um suspiro verde e alcalino.
Contenho um olhar de mar e toco-te.
Reproduzes a música serena de arrebatamento
E toco-te, de novo, em branco.
O som espraia-se na areia da existência
E volatilizas o discernimento da altura
Que condensa a minha vertigem.
Não fosse uma fantasia,
Cairia no fundo da cascata do êxtase
À hora rala dos arrepios antecessores.
Lês a calma e a tempestade dos bardos
No tom compassado de um ritmo,
Ternário, a compasso de bola de sabão
E tocas-me no âmago de um afecto
Exposto e inquieto.
Não grito,
Fui apanhado a sorrir
Nas tornas mudas do retiro
E retiro o lume de uma quimera,
Tão lisa e empolada,
Tantas vezes silenciada,
Que se comprime numa atmosfera,
De vida, entre outros dois mundos,
Paralelos, verdadeiros e concretos.
O arco de boca lança um beijo,
Ardente.
Vou, de novo,
No dorso de um sonho de água
Montada numa vontade de brisa.
Enrolam-se mãos de estonteamento
No gosto das divisões e permutas de alma,
Desejo de muitas contas e motivos,
Quando caem as lágrimas de devaneio de costas cansadas
Que cavalgam a escolha de uma aragem mortiça.
O respiro de um sujeito sem predicado
Que se arroja num peito de utopia
E o teu peito no meu peito é uma pauta
Com uma textura de canções de amor.
O amor, de novo amor,
O pouco de nada e o pouco de coisa nenhuma
Fixo numa tela onde pinto abraços que libertam.
O ensejo serôdio agarrado a um círio longínquo,
Nas voltas que respiram a regresso,
E as nuvens purpura que falam de nós em nós,
Em braços que tecem laços.
Roça o vento a destempo numa sucessão de carícias
Que me lembram o abismo e o medo,
Que furta os sonhos,
Na melodia plácida e laranja das evidências.
De outro modo crescem as heras,
Em eras e em muros,
Num intervalo de tempo sem data, sem prazo.
Vou,
Talvez às costas de um dia amarelo,
No átomo que me identifica,
Na essência que me compõe,
No dorso de um sonho de água
Montada numa vontade de brisa.
Fico na hora de acordar,
Próximo das linhas que arruínam a paisagem.
Tomo, sem parar, duas ou três ruas de desejo
Que se envolve em muitas histórias de engano;
Levo a patente à calçada de vago acordo
E ando até ao fim do mundo, que raso,
Antes de recolher o rubro do teu encanto
Que apenas logro imaginar.

6 comentários:

  1. ***** Fantástico!
    Um beijo.

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  2. «...numa tela onde pinto abraços que libertam.»
    Que dizer... Gosto muito do poema!

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  3. só te posso dizer que me estou a deliciar a ler os teus poemas, " num dorso de um sonho de água" que beleza,
    beijinhos

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    1. O meu humilde, mas sincero, obrigado, Luna!
      Beijinho

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