«Insónia, 8 de Junho
intemporal.
Eu não sei de
que forma existo. Não durmo.
Estou a ver-te
a sair, depois da despedida. Sei que é uma miragem, mas vais andando, afastando-te cada vez mais,
num túnel sem forma definida, mas com a promessa de retorno, impregnada na
neblina dos teus passos. Sais mais arrastada do que o próprio gerúndio. Tolero,
agora, o gerúndio, talvez, porque o associo, ainda, aos gestos lânguidos de uma
carícia arrastada.
Sinto um aperto no peito e a certeza do nosso amor. Esse
sentimento vai detendo uma lágrima, que teima em sair. Mas, logo se lhe juntam
outras e acabam por escorrer pela face, com a mesma urgência de um suspiro, num
misto de dor e alegria.
Preciso de ti.
Por momentos, preciso de ti como do ar para respirar. Mais, até, do que do ar. Sinto
que sufoco. Dirão que é uma meninice, talvez, mas não deixo de o sentir. E o
que é uma meninice, comparada com a gravidade desta minha premência, mais urgente
do que a queda das lágrimas? Quanto pesa a meninice num espantalho? Mas logo
sorrio. O amor que sinto vai vencendo o princípio de tristeza. Devagar, com
retrocessos, mas progredindo, também eu num túnel, mas num túnel sem tempo
definido e que se vai indefinindo. Aborrece-me o gerúndio, agora, e dói-me o
gerúndio, também.
Felizmente é
noite velha, não há assistência neste palco.
Mordo os
lábios à vez. O de cima e o de baixo. Por vezes, cerro os dentes, na tentativa
de ajudar a instalar a resignação.
Abraço-me. Sorrio,
por fim, de novo. Não é o fim. Dou lugar à força dos afectos, libertos dos fantasmas e
embebidos na minha essência.
Preciso de ti, de facto. Procurar-nos-emos
por todo o universo; de dimensão em dimensão; numa qualquer forma; de qualquer
forma. Daremos voltas ao mundo, até nos encontrámos, para sermos um, não sei de
que forma. E, reconhecendo-nos, sem conhecermos a nossas formas, constataremos que,
afinal estávamos tão próximos, aqui mesmo, na esquina da vida.»
as noite são tremendas para fazerem sair os fantasmas e por em causa a existência, os sentimentos, a vida, as sompras por vezes são companheiros que nos levam á exaustão
ResponderEliminarbeijinhos
Luna, as noites podem ser, extremamente, escalpelizadoras.
EliminarObrigado!
beijinho
Henrique,
ResponderEliminarSurpreendente e, emotivo.
Palavras intensas que desnudam sentimentos e, dolos. Por vezes, ás vezes a noite solitária fere e, traja os nossos pensamentos de reflexões silenciosas, cruéis. No entanto, a noite não é eterna Henrique e, a alvorada é anunciada permitindo-nos o recomeço de um novo dia que se deseja menos doloso, dissemelhante.
Um laço carinhoso de mim para si.
Ana
Por vezes, um novo dia é um acontecimento feliz!
EliminarObrigado, Ana! És muito sensível e amável!
beijinho