quinta-feira, 23 de outubro de 2014

por onde vou revisitado




os sete véus que te cobrem 
e o que sobra da minha vida: 
a loucura de querer ser 
  
às vezes tenho vontade 
de ser suposto salvar-te 
estendido nas voltas do mundo 
entendendo a humanidade 
em todas essa coisas pintadas 
e figuradas em destaques 
que banalizam o horror alheio 
nessas e outras pequenas coisas 
que me consomem absurdamente  
e que me fazem duvidar da generosidade  




quarta-feira, 22 de outubro de 2014

para onde vou




sem deixar de ser intenso, deixo-me 
abrandar. sem abandono. quero 
entender este não saber bem para 
onde vou. sei para onde quero, e posso, 
ir. não faço conjecturas ou previsões, 
quero, assim, apenas, recordar-te 
para não me voltar a esquecer de mim... 




terça-feira, 21 de outubro de 2014

de onde eu venho



não te apresses a ler-me! 
talvez me faltem as palavras. 
é possível que encontres um adeus 
onde não há tristeza. há renovação. 
o meu caminho é um rio sem fim, 
onde, por vezes, não encontras 
sentido; onde, por vezes, vou 
directamente ao fundo, e esta 
é só mais uma vez… sem drama! 
o horizonte fala-nos de tempestades 
fáceis, perdidas em pensamentos 
com mar e areia e regressos de amor, 
depois de ver… mas nada é tão fácil 
e eu vejo, ao fundo, fundo, o mar; 
redes rotas com olhares vigilantes, 
e adivinho a cidade, num só verso. 
talvez um dia eu volte a esta página 
de pó de sonhos com pó de estrelas, 
mesmo depois do poema se tornar pó 
e não me traga o hoje como eu sou. 
por agora importa o sorriso e sacudir 
do palco o gosto da tristeza.  




[10 de outubro de 2014]

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

por onde eu ando





ai, o crepúsculo e a suas urgências!
a cidade corre para casa e eu fujo
para a praia, onde o horizonte célere
desmaia nos meus braços, enquanto
guardo os meus reflexos, que provêm
de ti.  ainda estás comigo nesta luz
fugidia que é o fim do dia e diluímo-nos
no mar das recordações que deixaste
à flor da pele que se eriça lentamente.
reinvento-te. aflora o som de um beijo
encontrado, sem conhecer, sequer,
o som dos teus passos, e já a noite
me segreda, suavemente, o calor
do teu corpo, que me inflama num
abraço. e eu, de braços ocupados
por horizontes breves e inanimados,
procuro a vaga agridoce das tuas cores.
por onde andas, meu amor?




quarta-feira, 8 de outubro de 2014

ao vento






as minhas palavras não mudarão o mundo,
mudam-me a mim, numa via sem fundo.
o lugar prossegue e insiste,
mas o vento geme não por eu ser triste,
da mesma forma que o vento não uiva
por eu ser um lobo. sei o que o vento é.
por vezes sou eu, a beijar a nuvem ruiva,
apenas o mesmo ar em movimento de fé.




terça-feira, 7 de outubro de 2014

por aqui





as palavras caem como as folhas no outono 
e nestes instantes afundo-me no banco, 
num qualquer lugar, e descuro o flanco: 
abandono-me nos abraços do sono. 

sobrou-me o mesmo setembro em outubro, 
o mesmo que me faltou em setembro; 
o mesmo onde tracei trilhos que desmembro, 
os que resistiram às ondas com que me cubro. 

saberia acordar nos braços do desjejum do dia, 
ainda palavras agarradas inteiramente à frase 
inteira do sal grosso na manhã de uma melodia, 

e encher a causa com a paz que extravase 
em todas aquelas dissonâncias da harmonia, 
que me chegam num mesmo e sempre: quase. 




segunda-feira, 6 de outubro de 2014

coisas





é a intimidade do presente a criar futuros aos factos. 
não encontrei o sentido único no sentido das coisas 
que abarcam múltiplos e complexos tempos verbais. 
talvez tenha andado em contramão; talvez, em hiatos, 
tenha deixado de existir o passado nos meus olhos 
que sempre se apagam quando se abraçam aos teus. 
mas há tanta coisa incompreendida num improviso...




domingo, 5 de outubro de 2014

!





dobrar o tempo e o espaço como
se fossem uma folha de papel
romper o casulo e procurar a fé
a fé que não tenho e talvez não
a fé que perdi com a ingenuidade
depois de tudo e sem desculpas
o salto um som um odor o calor
um pouco mais que não morresse
nos polissílabos da dor inevitável
que imagina a sua própria alegria
nos vincos do mar que se converte
à metáfora do meu renascimento




sábado, 4 de outubro de 2014

cristalização





as memórias de mãos dadas com a lua
o meu coração que volta atrás no universo
e eu cercado de palavras por todos os lados
num labirinto de espelhos vestidos de luz
quem nunca saiu do seu próprio corpo
não conhece a aflição de querer regressar
a ele e poder encontrá-lo já ocupado




sexta-feira, 3 de outubro de 2014

à noite





aguardo que o teu rosto nasça
à noite não há gaivotas na praia
o ar procura o refúgio do mar
onde as sombras escorrem lentas
e os sons são canções de embalar
os molhes fluem dos meus olhos
e o meu mundo cintila nos teus




quinta-feira, 2 de outubro de 2014

sequela





vejo que jesus morre todos os dias
várias vezes por dia sem antes
ressuscitar e eu podia tentar
explicar-me o nada de tudo
e nada mas estou na encruzilhada
de uns poemas um vínculo ténue
de palavras que vejo tão simples
que se entrelaçam para segurar
o momento que se perde do outro
lado que se desenha na hesitação
da luz das estrelas esse labirinto
celeste que não pode conjecturar
o nosso destino com os mesmos
silêncios das manhãs que dormem
a vida quando começa nunca é
igual às outras vidas e é assim
dia após dia conjugados de forma
diferente onde quase existimos




quarta-feira, 1 de outubro de 2014

sob


  

algures na noite no mar do amor naufraguei
uma-a-uma as feiticeiras que me salvaram
previram futuros de amores sem sucesso
e que todos os dias nasceriam assinalados
por esse desígnio astral onde não sei quantas
vezes renasci agarrado ao toque de vazio
de um abraço solitário onde sorrio em silêncio