quarta-feira, 29 de março de 2017

Gravação


O vento, quase imperceptível, afaga as minhas raízes aéreas. 
Descanso sobre a página, uma folha tenra da primavera. 
Uma folha como qualquer outra, entre muitas outras, 
com pouco e tanto para contar, que segue facilmente 
o andamento lento da luz ávida, contudo, perfeitamente 
incapaz de inundar a cidade mergulhada na aridez de noite. 
Entretanto, a ria, polvilhada de pólen, leva-me para longe, 
com a vontade que eu trazia de me perder nesta neblina 
autêntica, onde deixo as pegadas de um gesto reflexo; 
onde os sentimentos transmutaram a paisagem e o nome 
que te anuncia não te diz e te dá a forma de um mistério. 
Onde está a chave, o destino de ir para onde já me encontro? 


 [massivo]



3 comentários:

  1. Por vezes fica a percepção, ou a certeza, de que andamos em círculos. O poema é um intrincado intenso de sensações e sentidos.
    Bjks

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  2. Já estás em casa... não precisas de chave...
    Mais um poema maravilhoso, homenageando a tua cidade de eleição... que adorei ler!
    Bjs
    Ana

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