«se nem fui e se nem foi coisa alguma»
ali estava um ténue eu difundido em contraste
um reflexo em confronto como um efeito de luz
mais reticente do que a hesitação das gaivotas
suspiro pelo transitório sentimento de ter perdido a alma
mas como posso perder o que ninguém determinou que
existia
como posso perder o que nunca foi meu e o que ninguém
tomou
transitório entendimento de existência com sabor a terra
alguém me há-de apagar esta sensação de ter raízes e
pátria
quando tantos de mim decretam a minha partida
o cair fundo no fundo onde nunca se chega
e de onde nunca peremptoriamente se parte
é uma viagem de porta fechada e de coisas sem fim
a forma de regressar à forma inexacta de desejar
e de me inventar num horizonte desconhecido
há um momento em que apetece ser o cansaço
ser a espera e ser o abraço enquanto se é palavra
a palavra sedenta que encontra o seu papel nas folhas
que na loucura de não cair no outono procuram um ombro
que seja a paz de um na paz do outro mais profundo
parto, mas levo a minha pele
lavo-a e retiro-lhe o perfume
do fogo vagaroso do sobressalto
no ranger das pontes abandonadas
que preparam as profecias dos marnotos
onde sou um moliceiro largado
de encontro ao cais dos mercantéis
ao sabor da ironia das marés
e alguém a passar a pensar pensou
que era para si a viagem
que era para si o poema
que pereci no verso
onde eu costumava existir
sob a forma de ilha
[a ilha]
achei o poema com um cheiro de partida e melancolia.
ResponderEliminara foto está excelente e com muita boa cor,
boa semana.
beijo
:)
Belos, a foto e o poema.
ResponderEliminarBeijos, Henrique. :)