terça-feira, 6 de outubro de 2015

na cadência do outono


aveiro | portugal




na cadência do outono um hemisfério norte 
uma ruga incompleta que conquista a fronte 
tão rente a um rasto de outras rugas alojadas 
na fonte da métrica da testa em chamas 
que se julgava tão soberana e tão plana 

na cadência do outono uma transparência 
que tenta sabotar o nevoeiro cerrado 
que deixou de ser metáfora no céu 
para conquistar o litoral absorto 
num súbito rasto de opacidade solta 

na cadência do outono um lapso 
o amolador chegou atrasado e imerso 
porque hão-de amotinar-se as tesouras 
que não sabem se a ilha está cercada de amor 
ou se o amor está cercado de antipatia 

na decadência do outono posso dizer adeus 
e revelar que não há destino em mim 
divulgar que me tenho mentido muito e muito 
abraçado ao silêncio de um sorriso 
ao dizer enquanto canto que não amo 




[a ilha]




1 comentário:

  1. Em outubro a poesia adensa-se.
    Ai, as "mentiras" dos poetas... :)
    Há uma certa, mas agradável, cativante e, até, reconfortante, nostalgia. Um deleite, como sempre.
    Bjks

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