Esta coisa de
rebobinar, de iniciar como quem volta a trás,
pode gastar-se ou
partir, tudo coisas de acabar ou a termo;
coisas que, em
verdade, não existem, ou são só coisas.
Hoje, quando me vi
ao espelho para decidir se aparava esta
coisa que é a
barba, encontrei uma coisa assim como um traço
contínuo, no lugar
dos lábios, e disse-me: sorri, coisinha!
E a coisa
compôs-se, mas a barba lá continuou, coisa e tal.
Há quem procure
coisas em mim, uma qualquer coisa
para desperdiçar,
uma qualquer coisa que não tenho.
Eu não tenho
coisas, as coisas não são minhas, embora
estejam por aqui,
em mim, e eu próprio seja uma coisa.
Entre coisa e
coisa, as coisas também nos dão alegria,
ou a ilusão de o
ser ou de a ter, quando não nos coisam.
Aquela mulher não é
louca. E aquele homem, também
não! Continuam a
sonhar, como eu. Somos sempre os
mesmos a sonhar. Eu
procuro coisas nas palavras, ela
procura coisas pelo
chão e ele procura coisas no ar.
Acredita, eu, em
alguns dias, muitos dias, para além
de procurar coisas
nas palavras, procuro coisas no chão,
no ar e em todos
estes loucos que não o são.
[massivo]
Mas porque será que as coisas mais importantes da vida... raramente são coisas?...
ResponderEliminarE no entanto, a gente vive procurando por coisas...
Coisas... que dão que pensar... tal como o teu poema... como sempre, de uma construção brilhante!
Beijinhos, Henrique!
Ana