segunda-feira, 20 de março de 2017

Pelo prazer ou pelo capricho


É uma margem mais coerente, um lugar mais provável. 
Tudo aqui é mais caro, mas nem por isso mais simpático. 
Ou talvez o brilho monetário do meu olhar seja insuficiente, 
ou é um intervalo vago nesta geografia de conhecidos. 

Vi o que tinha, e o que não tinha, a ver: as grandes bifurcações 
da verdade em lotes normalizados; a beleza artificial entroncada 
na beleza natural com a mesma falta de garantias; a real incerteza 
que não oferece consolo; o brilho sofisticado e apelativo, até a linha 
do horizonte omisso; a sensação ou o traço seguro da presumível 
alegria; a ingenuidade da cidade à procura de espaço e ordem; 
que, afinal, eu sou muito mais livre e feliz do que imaginava. 

Não há pombos. Mas há gaivotas, que procuram a tempestade 
consumista, como uma oportunidade de festim aprimorado. 
Afinal, há excedentes, pelo menos, visivelmente mais apetecíveis, 
ou a imagem táctica da ilusão estatística de poderem existir. 
Por outro lado, também, tudo aqui é mais conciso, mais breve, 
mais curto e depressa se chega ao fim, um qualquer fim. Fim. 


 [massivo]



2 comentários:

  1. Estava aqui a pensar que já te leio há uns anos (muitos) e que é sempre um prazer ler-te; que já faz parte da rotina vir aqui, no bom sentido.

    Gosto do poema, muito! O poeta fora do seu ambiente, mas que o assimila e o processa para servi-lo de forma a que o próprio leitor componha a experiência durante a leitura do poema. Sinto-o assim. Creio que prevalecerá o estado de espírito do próprio leitor. Eu sinto-o como um poema sem drama, alegre, com passagens de pura fruição cerebral, emocional.

    Feliz dia da poesia! :)
    Bjks

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  2. Os festins da procura pelos fins... sem muitas vezes se dar conta do quanto se perde, ou se está disposto a perder, nos seus meios... e que dão corpo ao frenesim que se vive na cidade... que a sustenta... mas nem por isso, dão a garantia de a tornarem um lugar mais simpático... só por isso... ou com mais sentido... numa qualquer cidade...
    Um poema denso... mas que nos deixa a reflectir sobre a natureza da agitação de uma cidade... uma qualquer cidade...
    Gostei imenso! Beijinho
    Ana

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