domingo, 5 de março de 2017

Possibilidades massivas



A chuva reimprime os pequenos espelhos onde se reflecte, 
nos intervalos, a afeição da lua, sem argumentos adicionais. 
Vê: os sentimentos, mais do que meras palavras, ostentam 
a singularidade e a pluralidade das mesmas letras obstinadas, 
mas abandonam os simulacros de sinais de um passado de 
ruídos, de tormentas de silêncio e de protestos de caminho. 

Não sei se perdi, algures, o caminho tomado no início, ou se 
esse caminho entroncou, naturalmente, neste, onde agora 
me encontro. Sei que o outono deu lugar ao inverno e que 
os seus dias já estendem os ramos azuis, numa determinada 
atitude revolucionária de luz e de conquista de espaço à noite, 
à sua parte visível, para cobrir a terra com o meu verde diurno. 

Conheço estes pássaros nocturnos que, felizes, abraçam os meus 
olhos. Mas deixemos o céu, trago na pele o mar que tirei da gaveta. 


 [massivo]



1 comentário:

  1. Mais um poema belíssimo e profundo... como o próprio mar...
    E mais um dos meus preferidos por aqui!...
    Beijinhos
    Ana

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