segunda-feira, 13 de março de 2017

Imaterial do amor


O mar, arrepiado, que já viu tantas histórias 
e que se move por necessidade, vai encurtando 
a solidão da praia num abraço que a diminui. 
Ou melhor, que a inclui perfeitamente em si, 
como se a reclamasse como coisa sua, apenas 
sua, na decisão de amar a laguna, que já teria 
tomado, já lhe teria dado o acto misericordioso 
de ria absoluta e definitiva, não fosse o pavor 
da memória humana ter depositado várias 
toneladas de álibis na duna que se extinguia, 
que perdia a memória em rudes prestações, 
na imensidão decisiva de areia de inconsciências 
obsoletas e irremediáveis, que durarão mais 
do que as fotografias digitais de uma indiscrição. 
Junto, saberá a mortalidade por quê, tudo isto, 
na mesma pasta imaterial do amor, em memória. 


 [massivo]



2 comentários:

  1. Bonito. Muito.
    Aveiro no teu coração.

    Beijos, Henrique :)

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  2. Uma bonita declaração de amor... pela tua cidade... materializada no teu poema...
    Gostei imenso! Beijinho!
    Ana

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