terça-feira, 30 de outubro de 2012

Na realidade


Na realidade, nem de longe sou um poeta
E é essa mesma realidade que me chama, sem filosofia,
Que me desperta, em justiça,
E me mostra, cegamente,
Com uma seta de lei em fundo de seda,
O caminho que está além
E que eu sei que existe, mas não se vê.
Sou um louco espontâneo e sem escolha,
Por pura eleição,
E não recuso ser o protagonista da minha história,
Igualmente louca, que escrevo todos os dias
Sem que estes me pertençam,
Mesmo enquanto vagueio pela cidade,
Mesmo de baixo de chuva.
Vivo alucinado
Num esboço reservado,
Amante da vida e da liberdade,
Da ria e da sua excentricidade.
Estou sempre tão perto,
E é certo,
Sou quase, constantemente;
Provável, permanentemente
E nem é essa a questão,
Ainda que se uniformize a normalização.
Dispenso o público, a assistência,
Desvairado e sem paciência,
Pereceria sem o afecto da loucura
E isento a vida, da qual sou militante.
Não sei onde me fiz, fui-me fazendo,
Num gerúndio que abomino.
Sou frequentemente infrequente.



12 comentários:

  1. "de poetas e de loucos todos temos um pouco" alguém o disse, poeta para mim é quem escreve com sentimento quem busca no firmamento e sabe escutar as águas do rio.
    " Um homem quando nasce nasce selvagem, não é de ninguém" e é nessa liberdade que a vida dá que escrevemos o nosso caminho que traçamos o nosso destino e somos os protagonistas das nossas histórias.
    beijinhos

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    1. Escrevo com sentimento, procuro no firmamento e escuto as águas do rio, do mar, da ria, do lago (Brincadeira: Agora, basta juntar água! [;)]).
      Obrigado, Luna!
      Beijinho

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    2. mais uma pitada de sal um pouco de piripiri e temos caldeirada para o jantar.
      beijinhos

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    3. Isso. E cebola; batata; tomate; azeite; vinho branco; alho(?); pimentos(?); salsa(?); hortelã(?); louro(?); coentros(?). [:)]

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    4. ui ui que cheirinho, temos cozainheiro

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  2. Na realidade, hoje senti mais dificuldade, do que é habitual, para comentar. É poesia da pesada e densa, com muita informação e obrigou-me a parar. Dois «senhores» poemas!
    Diria que é um ponto de reflexão e inflexão, que roça a desistência, não se procura audiência a qualquer preço, nem arrastar indefinidamente. A loucura aponta para vários caminhos, realidades. O entendimento de que nunca se é, pois fica-se «perto», «quase» e «provavelmente», sem que isso seja o que importa. E, no fim, talvez, um pedido de desculpa.
    Na realidade, amei!
    Um beijo!

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    1. ... E questiono-me sobre a utilidade de tudo isto...

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  3. isto com a vontade de rir até as palavras saltam, cozinheiro queria dizer

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    1. Eh! Eh! Gostei da outra palavra.
      As coisas ficam cozidas, normalmente, e, normalmente, gosto (Como! tenho que me motivar!...). Mas não pratico uma cozinha matemática, funciona na regra «mais ou menos» e «a olho».

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  4. Verniz Negro30/10/12, 23:05

    Dois poemas que são como dois marcos. Quase um pórtico para algo que o poeta sente como ninguém, e nos convida a entrar para poder experimentar em deleite, consigo. Escrever assim, não é para todos. Ler é um privilégio. Beijinho. Uma noite descansada.

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    1. És, de facto, muito generosa.
      Obrigado!
      Beijinho, Verniz Negro!

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