quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Pano de fundo


O escritório espera por mim, depois do café que não foi, e eu não 
estou muito sociável. Não quero partilhar a brevidade do espaço 
e a cubagem do tempo do elevador com a estranha árvore de saltos 
altos que me ultrapassou, há instantes, na cerimónia da calçada. 
Não por me ter ultrapassado, mas pela ramagem imaginária 
e dolorosa que se lhe adivinha e pela brisa angustiante que exala. 
Ou, talvez, por temer que esse brilho seja o meu reflexo concreto 
e conclusivo, a minha natural imagem elementar e decadente. 
Eu subo, com o meu mau feitio, com as minhas raízes enleadas, 
mas vou pelas escadas, depois destas palavras escorregadias 
se colarem ao triste e húmido papel amarrotado: a minha pele. 


 [massivo]



4 comentários:

  1. Este poema também não me deixa indiferente. Estou como que em arrebatamento, com o enredo, a mistura dos contrários, as imagens que contém... É agradavelemte efervenscente! Parabéns!

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  2. [ Uau! ]
    E quando penso que já não há mais surpresas, eis que o poeta se reinventa...
    Muito bom!
    Bjks

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  3. Excepcional este pano de fundo... pela construção, e descrição... muitíssimo bem elaborada do cenário em que o mesmo decorre...
    Adorei! Criatividade no seu melhor!
    Beijinhos!
    Ana

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