quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Análise superficial


A ria mergulhou num sono profundo e as palavras não nadam sozinhas. 
O poeta não transfigura. Há horas que permanece imóvel, silencioso, 
como se estivesse acanhado, a tentar adivinhar as estrelas que estarão 
do outro lado das nuvens. E sorri, por vezes, ali, sozinho e numa expressão 
que, na realidade, não consigo descrever. Talvez esteja indiferente, 
com o alheamento necessário para suportar o peso da mobilidade 
do universo e dos pequenos retalhos da sua vida singular e latente. 
Ou talvez seja essa a sua fundamental forma de comunicar, a sua língua, 
e procura o poema que terá subido ao céu, onde as palavras aparentam 
ser mais fortes do que o cansaço e fluem com o seu mesmo interesse. 
Mas, que sei eu sobre o poeta, sobre o seu centro ou sobre a sua superfície? 
Olho para ele como se me juntasse às memórias de uma dor antiga, 
labiríntica. Contudo, leve, repleta de saídas e muito mais do que palavras. 


 [massivo]



1 comentário:

  1. Uma coisa é certa, Henrique... cada um dos teus poemas tem sempre uma riqueza tão grande no seu conteúdo... que a superficialidade... sempre se nos escapa...
    Beijinhos
    Ana

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