Como poderia salvar o poema, quando nos versos se ouvem
vozes 
que nos dizem que o teu corpo não tem arestas e que o meu
tem 
abismos de luz, rios de risos, manhãs de afectos que
abraçam 
as prováveis noites mais frias? Quando eu mesmo me encontro 
a falar com a ria, com a cidade, com os pássaros,
abraçado à maré? 
Ou quando me abandono a confortar o velho e sábio ulmeiro, 
ou a ouvir os seus sensatos conselhos, sem, claramente,
saber nadar? 
Como poderia salvar o poema, quando ele mesmo nega a
salvação 
e diz ter encontrado, sem compaixão e amargo, um deus à
esquina? 
Quando, na sua língua, ninguém encontra um resto visível de
corpo 
para entregar a um pouco de alma que tanto se pretende
encontrar 
na solidão, nos silêncios, numa aturada análise
à sua geometria? 
O que se pode fazer por um poema que chega à derradeira condição, 
o estado da desnecessária explicação e da dispensável resplandecência? 
Em certos momentos, tudo se funde no poeta, que é um ser
humano, 
e não garante a sua própria salvação ou, sequer, a sua
própria existência. 
 [massivo]
Questionando um poema... desconstruindo-o e explicando-o... de uma forma brilhante!
ResponderEliminarBeijinho
Ana