segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

O tempo que passa


Sob a superficial aparência de recordação e de vontade súbita,  
espreito a parte detrás do vidro onde sempre pareço estar, 
como um reflexo de mim, por mais que me mova, por mais 
que o contorne; onde, por vezes, me vejo chegar, depois 
do poema, como que uma espécie de poeta a chegar às salinas 
e no seu espelho de água, sob a luz pertinaz do dia, como se 
caminhasse para o infinito inevitável, por detrás do vidro. 
Então, deixo passar as horas. As horas inundam-me na fronteira 
das lembranças, no mar de névoa que passa e me distrai. 
Passa o sol. Deixo-o passar, com os seus raios de palavras. 
Mas a tarde está parada quando passa o rosto do teu nome 
e o céu repete-se, como as coisas inacabadas ou as memórias. 


 [massivo]



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