segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Onde és corpo


Há quem nos ensine a temer a morte, 
com vocábulos de um pudor que dá 
para noite, sob as asas de anjos ocultos 
que afastam barreiras deixando espaços 
para, apenas, a imaginação tentar preencher 
mais tarde. A vida, assim, adquire um estado 
encantatório, uma textura astral, um certo 
enlevo aéreo, que só uma qualquer fé 
consegue explicar e justificar. Mas a vida 
salta-nos de capítulo em capítulo e, no fio 
da trama, somos nos mesmos, ao virar da curva, 
a tomar caminhos confusos e a decidir, talvez 
inconscientemente, os mistérios onde vamos 
encalhar o corpo, toda a história e as aventuras. 
Um rumo, por vezes impreciso, que nos afasta 
da magia inicial, mas onde pudemos relativizar 
a inevitabilidade num ponto indefinido que salta 
a página para aprender a domar sentidos, 
sentimentos e a fatalidade da existência. 
Possivelmente, no momento em que nos permitimos 
errar, que é como quem diz inesperadamente: o amor. 



 [massivo]



1 comentário:

  1. Como sempre um poema que se desmultiplica numa série de emoções, caminhos e texturas... como só tu o consegues fazer tão bem, através da tua escrita...
    Mais uma belíssima inspiração, por aqui!
    Beijinhos
    Ana

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