sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Dedução


Os dias encurtaram, nitidamente, com o crescendo 
do outono. À excepção das gaivotas e das pombas, 
que em alguns momentos aparentaram possuir toda 
a serenidade e todo o tempo do mundo, as restantes 
aves deambularam de um lado para o outro como se 
tivessem algum dever a cumprir, um afazer permanente 
e inadiável, uma urgência constante, enquanto a luz 
do dia o permitiu. Pouco mais me resta do dia. À noite, 
o silêncio junta-se a todas as aves diurnas e estas são 
dissolvidas pela escuridão. As nuvens deixam, apenas, 
uma ideia de céu e, quando as janelas se iluminam, 
percepcionam-se uns vagos vultos ou a projecção 
vazia dos seus movimentos… A vida é o movimento 
e é tudo o que com ele fazemos e como o multiplicamos. 
Mas, há movimentos sem vida e outros que conduzem 
a morte. Também o movimento é relativo e ilusório. 
Sorrio com estas inusitadas deduções e não continuo. 
O ar entretém-se comigo, o que afasta a sensação 
de ser um irremediável poema, a viver numa gaveta. 


 [massivo]

2 comentários:

  1. é bom deitar essas emoções e vivências para o papel, mesmo que fique na gaveta...quem sabe ele um dia não salta e voa por aí....

    bom final de semana.

    beijinhos

    :)

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  2. Acabei de deduzir... que vou assinalar lá no meu canto... mais umas palavrinhas tuas deste poema... daqui a um tempinho... outras tuas, ainda surgirão antes destas... :-D
    Se me permitires, claro!...
    Beijinho! Bom domingo! Vou agora espreitar alguns dos teus últimos posts, conto vir com mais tempo num outro dia, durante a semana, ver o que tenho andado a perder por aqui...
    Ana

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