O ulmeiro fala sozinho e adormece no inverno, mas
irradia uma natural e peculiar imagem de sapiência;
caminha na avenida, no extremo mais próximo da ria
e ao seu encontro, cadente, circunspecto, sem garantias.
A ria tem sussurrado mais do que o habitual.
Aguarda pelos versos que a rasgam por dentro
ou pelo coice de um poema, numa sofreguidão genuína,
com a superfície espessa de um movimento congelado.
Por vezes, desamarra-se do cais, sobe à praça e vagueia
pelo seu movimento ondulatório, à procura do ulmeiro.
Eu sei que saio à noite e que chego ainda mais à noite;
que a noite, por vezes, é mais longa e com pontas
desiguais; que os lençóis respiram a saudade e abraçam
o corpo no escuro, alheios à ria, ao ulmeiro e a cidade;
que, de qualquer forma, no relativo da ria e do ulmeiro,
estamos presentes como lençóis abraçados ao corpo
do vento, ou como desígnios que aguardam a mudança
do sinal luminoso do seu trânsito condicionado: o amor.
[massivo]
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