quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Princípio


Enquanto cai a semente às palavras,
Semente que ninguém colheu,
Talvez porque as palavras não são
De uma bela herdade, ou quinta, de boas lavras.
São palavras de uma leira abandonada, que alguém esqueceu.
São o fruto de um amanho directo e sem ilusão;
São a receita de um trato ausente, de solidão e de breu.

Mas, enquanto cai a semente às palavras, já referidas,
Semente que o próprio semeador abandonou
À sua sorte, dita em quem ninguém crê,
Porque, essa fortuna dá muito trabalho e horas perdidas;
Consome afectos, sonhos e o pouco que restou
De uma vida magra, justa; existência que pouco se vê
E que adensa a neblina campestre e o ermo onde ficou.

Enquanto cai a semente às palavras, cansadas,
Semente miúda de geração antiga, seca e mirrada,
Tão provecta que se lhe perdeu a origem,
Génese de receios, de outros freios e de ocasiões paradas.
O princípio de omissão de uma natureza encerrada,
Essência que nem os corvos exigem.
Muitas gralhas urdem na inferioridade da fuligem.

Porém, enquanto cai a semente às palavras, maduras,
As vidas decorrem indiferentes,
Como origem das causas sombrias e de outras loucuras.



4 comentários:

  1. Olá Henrique! As palavras são sementes que crescem e se multiplicam, mas tal como os terrenos têm que se cuidar. Nada "germina" sem cuidado, sem afecto e dão muito trabalho, preocupação. Podem ferir na faina da lavra, calejar o corpo, a mente o coração. Podem tornar-se daninhas e não dar nada. Adorei o teu poema com tudo o que sabes tão bem tecer, como um bordado. Beijinhos uma boa noite e bom dia amanhã.

    ResponderEliminar
  2. Com base num bom princípio tenta-se que se semeie as sementes que nos parecem ser as melhoras de que dispomos na altura.

    ResponderEliminar
  3. Obrigado, Noctívaga!
    És muito gentil.
    Bem-haja!

    ResponderEliminar

Obrigado, pelo seu comentário!