terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Lugar incomum


Encontrei, no sótão, alguns afectos
mal arrumados,
como que abandonados. Fiquei,
e eles comigo, sem palavras. Sempre
as palavras ou a falta delas.
Quando não há palavras não se
pode começar, nada,
com elas.
Parece óbvio
e impõe-se que o seja e o pronuncie.

Alguns afectos tinham companhia
ou
acompanhantes.
Nuns casos era o medo
ou vários medos, também, mudos e,
alguns, ainda, sós.
Noutros, casos, era a razão
ou as razões,
que, em algumas situações, acompanhavam
só o medo; ou o medo e os afectos, quando não
estavam isoladas.

Vi anais pueris, a brincar com
as coisas sérias;
com as sisudas; com as
misérias.
Nunca deixarão de ser o
que eram.

Tropecei em pedaços de carácter,
perdido,
Sem vocábulos ou termos.
Fragmentos que se
misturam com todos os
sentimentos, visíveis
ou invisíveis.

Havia um covil, do ardil, descoberto,
mas tapado,
com os olhos grandes já de fora;
Asas, asinhas, aselhas e asas sobresselentes;
Halos, com auréolas, e diademas;
Sortes e reveses.

Não sei quantos afectos, e/ou
medos e/ou razões desceram comigo, para
este chão desarrumado.
Ou se, por desventura ou fortuna,
terá descido alguém.


5 comentários:

  1. Belo, belíssimo, brincas com as palavras de uma forma natural, única e expontanea. Obrigado por me encantares. Beijinho amigo, até amanhã.

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  2. Acredito que seja bom que a certa altura os afectos tenham sido encontrados, tenham descido do sotão e mesmo desarrumados, tenham estado presentes.
    As palavras, deixa-as fluir, dá-lhes a mão se veres que elas tem medo. Ou que a razão se impõe.

    Quebra o silêncio.

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  3. Olá, Sol!
    Em sintonia, há recordações que se materializam em palavras e que valorizam o que usufruímos no presente.

    «Quebra o silêncio.» Gosto!

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  4. Isso apenas significa que o passado nos fez aprender, crescer, evoluir...

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