os dias não são todos iguais olho para trás
de onde ainda não há pirâmides de sal
a cidade é mutável como o mundo e as relações
querendo-a ou não a ria sempre esteve aqui
mesmo nos momentos em que eu me abandonei
partilhamos as nossas cicatrizes e pequenos triunfos
nenhum personagem é inteiramente feliz
talvez se tenham esquecido da esfera magnética
e eu fui diluindo a cidade nas palavras e afectos
amalgamando as cidades da minha vida
por cada novo capítulo e verso após verso
eu que já fui um forasteiro revestido de campo
por vezes procuramos a cidade na cidade errada
não existem partes erradas na cidade dentro de mim
não a salvo nem ela me pode salvar no espaço
onde a rua se interrompe em mais um equívoco
mas nada é tão simples nem tão complicado
e pela frente ainda existem todos os caminhos
que faltam e que de qualquer forma nos levam
ao fim circunstancial num tempo indeterminado
é aqui que o céu é cruzado por um bando de metáforas
as ruas ficam apinhadas de novas e velhas alegorias
e o tempo e o espaço fundem-se no magnetismo
sem novas oportunidades para a descrença
de onde a partida é implícita como as vagas
nas janelas do mar que adormeço ao domingo
corre uma urgência em mim que eu não vejo na cidade
as noites não são todas iguais no fim da urbe