existem vários versos no escuro da memória
onde habitam gestos e sons do vazio dos meses
imagens com aromas que transportam o tempo
que as pombas já conhecem de cor e sentem seus
numa cidade que se adapta para encaixar o ocaso
aveiro que serena nos braços da ria ao som do mar
não há muitas janelas que te mostrem assim
quando ainda não é tarde e tenho que partir
ou dias que corram da estação para a avenida
que conduz a vida sem curvas ao canal central
deixámos de nos ver à janela em dias quebrados
com coisas que deixaram de nos servir no corpo
e coisas que ficaram em desuso para a cabeça
sem nunca termos conhecido os pés da história
vieram as certezas que despem sentimentos
e que vestem novas causas e contextos de fé
como brisas que afagam a assídua preocupação
do distanciamento que ainda assim mantém
a pele arrepiada com o perfume da resignação
precedido pelas convicções e decisões cabais
que parecem convergir para fora da cidade
mas basta a circunstância de te pressentir
para deixar de ser verdade a simples razão
com os mesmos personagens no palco e enredo
não sei o que possa declarar a vigília da noite
às ruas da saudade da esperança e dos sonhos
que se apressam a confluir para os jardins do medo
invadidos pelas grandes questões dos pardais
enquanto parte de mim o moliceiro que recolherá
e transportará o moliço que há em mim e a mim
numa cidade que se molda para encaixar a aurora
numa cidade que se molda para encaixar a aurora
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