havia um ruído ténue mas perceptível
que tive dificuldade em localizar
talvez porque ultimamente ando mais lento
nuns laivos e apontamentos de campo
ou por coisas que são factos que aparto
a cidade também não aparenta ter pressa
talvez por saber quando não há soluções fáceis
eram poemas adiados e rascunhos guardados
que murmuravam em caixotes gemebundos
palavras que se acomodavam ao espaço
já usado e acomodado ao mundo exterior
e que davam liberdade ao espaço de gavetas
recordo que nos faltou o espaço e o tempo
que talvez sejam a mesma coisa simples
anos depois das cinza dos poemas passados
a limpo e de todos os outros indeterminados
que a insegurança e a vontade de ferir expôs
ao fogo que assim me queimou apegos
rastos e caminhos em vários tempos verbais
em múltiplos sentidos e amplos sentimentos
talvez por falta de outros espaços e necessidades
aparenta escorrer uma melancolia espessa
tomava o ruído ténue dos poemas e o meu
amalgamados anos depois do meu pai
tinha o céu nublado e o silêncio indiscriminado
dos pássaros e da correnteza da rua e da ria
reunidos na polissemia e na ausência de pontuação
mas é assim que também nascem os sorrisos
e as cores e os gostos e os odores e o próprio som
declaradamente sem pontos ou casas decimais
onde tudo fica diferido no tacto inteligível
já não há um ruído aproximadamente ténue
há uma melodia compreensível e esclarecida
talvez dimensões que não tenhamos procurado
e ainda bem que existe essa melodia...
ResponderEliminara foto está também muito bela.
:)