domingo, 29 de junho de 2014

urbe L




os dias não são todos iguais olho para trás 
de onde ainda não há pirâmides de sal 
a cidade é mutável como o mundo e as relações 
querendo-a ou não a ria sempre esteve aqui 
mesmo nos momentos em que eu me abandonei 
partilhamos as nossas cicatrizes e pequenos triunfos 
nenhum personagem é inteiramente feliz 
talvez se tenham esquecido da esfera magnética 
e eu fui diluindo a cidade nas palavras e afectos 
amalgamando as cidades da minha vida 
por cada novo capítulo e verso após verso 
eu que já fui um forasteiro revestido de campo 
por vezes procuramos a cidade na cidade errada 
não existem partes erradas na cidade dentro de mim 
não a salvo nem ela me pode salvar no espaço 
onde a rua se interrompe em mais um equívoco 
mas nada é tão simples nem tão complicado 
e pela frente ainda existem todos os caminhos 
que faltam e que de qualquer forma nos levam 
ao fim circunstancial num tempo indeterminado 
é aqui que o céu é cruzado por um bando de metáforas 
as ruas ficam apinhadas de novas e velhas alegorias 
e o tempo e o espaço fundem-se no magnetismo 
sem novas oportunidades para a descrença 
de onde a partida é implícita como as vagas 
nas janelas do mar que adormeço ao domingo 
corre uma urgência em mim que eu não vejo na cidade 
as noites não são todas iguais no fim da urbe 




6 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderEliminar
  2. Tuga,

    Adorei a maneira como você descreveu cada sentimento. A foto belíssima completou o encanto de seus versos! Muito belo! Gr. Bj.!

    ResponderEliminar
  3. Olá, Rique!
    Um final de "série" (ciclo?!) extraordinário!



    ResponderEliminar
  4. Com o meio citadino como fio condutor entre sentimentos, sensações, afectos...
    [Creio entender que é o fim da «série urbe», poeta! :) ]
    A partida nem sempre é um sinal de abandono.
    Lembro-me que tudo começou com a urgência, que não vês em ti, da cidade, e que culmina na tua urgência, que não vês na cidade, mas em coesistência cordial. Cada um com a sua identidade e coerências. Mutáveis, não incoerentes; cada um com a sua partilha. Os poemas foram-se confirmando como o teu local de resiliência/resitência, que conquistaram a melancolia poética, que nunca senti como depressiva.
    Parabéns!! Continua a ser uma viagem fantástica!
    Bjks!

    ResponderEliminar
  5. nem as noites nem os dias são iguais, são sempre diferentes, depende do nosso olhar e do nosso sentir.
    achei uma quase despedida, mas, penso que é apenas um fim dos escritos sobre a cidade.
    outros virão!
    a foto está muito bonita!
    :)

    ResponderEliminar

Obrigado, pelo seu comentário!