como então, a olhar, como quem nada vê, 
para a multidão. tufos desiguais de pessoas 
indiferentes, resignadas, persistentes, ignotas, 
em fluxos de movimento errático, mas fluido. 
como que em atracção magnética, induzida 
por uma urgência invisível e universal. 
por vezes detém-se, abruptamente, 
de encontro a uma barragem invisível 
ou perante um obstáculo imprevisto 
e irredutível, num momento hesitante, 
forçado, mas obediente, para prosseguirem, 
depois, em premência, repentinamente, 
repetidamente, como se fossem repelidos 
pelos objectos ou naturezas imobilizadoras. 
e cada indivíduo desaparece, algures, 
absoluta, indiscriminada e invariavelmente. 
gosto de pensar que cogitam, para além 
da necessidade de circulação maquinal; 
que não são simples gestos de dependência; 
que são mais do que a fatalidade exterior, 
aparentemente ordeira, opaca e idêntica; 
que cada ser, cada um, é um universo 
de vários, com múltiplos universos, comuns, 
ou invulgares. sistemas, raciocínios, vidas, 
abstracções, mais ou menos complexas. 
gosto de o pensar, de pesá-lo, de circulá-lo, 
porque sou parte sedenta desse aglomerado 
sem nome, dessa massa física e imaterial 
ondulante e deambulante; parte inadiável 
desse corrupio de gente, também dentro, 
também fora, de mim.
 [palavras relacionadas]
Adorei o poema... que faz uma análise tão certa e abrangente desse corrupio de gente... e que termina... indo buscar quem o vê e sente... também o colocando... por ali...
ResponderEliminarE a imagem, não poderia estar mais perfeita, para ilustrar o mesmo... Adorei o enquadramento!
Bjs
Ana