quarta-feira, 29 de junho de 2016

nota de devolução


aveiro | portugal


entre a carga e a descarga, 
quero, por vezes, desaprender, 
desenganar-me de novo, 
agarrado a exactidão do instinto; 
esquecer que já tudo foi dito. 
reaver a companhia dos fantasmas 
do futuro que nos descobriam 
a razão tão sentimental. 
acreditar, de novo, que a fome, 
a crueldade, o ódio, a guerra, 
qualquer tipo de violência, 
doença ou catástrofe, nos comove, 
devolve a culpa e mobiliza. 
quero aprender coisas novas como: 
ser possível confiar em quem chefia; 
que ninguém governa rudemente; 
que o poder não corrompe; 
que um deus é certeza do amor. 
sentir que o socialismo não é irónico, 
que o senso não empalidece, coagido; 
que o socorro, a compreensão, 
e a bondade são inatos à vida; 
que tudo isto nos pareça maduro 
e não cruamente repetitivo. 


 [elipse]


1 comentário:

  1. Estranho mundo este... em que o que é certo, nos parece utopia... e o errado, cada vez é mais visto como certo!...
    Mais um poema admirável! Com um tema espectacular! E um excelente suporte de imagem...
    Bjs
    Ana

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