quinta-feira, 26 de maio de 2016

imagino-te a entrar no poema


porta de alegrete [do século XIII], portalegre | portugal


imagino-te a entrar no poema, na parte onde 
me consigo resguardar e, que já tem a porta 
aberta. já sabes que eu só fecho a porta dessa 
parte do poema, onde estou, quando vou dormir, 
ou quando não posso estar por ali, acessível. 
dás atenção, seguramente, à substância e à arrumação. 
sou imaginária e poeticamente abastado e genuína 
e materialmente modesto. o asseio sou eu que o faço, 
mas não esperes encontrar tudo meticulosamente 
arrumado. eu vivo em todo e por todo o poema. 
há sempre umas palavras à mão, eventualmente 
uma ou outra já usada sobre uma mesa, ou noutro 
ponto ou vírgula ou sinal de pontuação, ou sem eles; 
e bastantes, e em quase qualquer lugar, disponíveis 
para um acto de leitura, sob várias formas e formatos. 
sim, eu não estou em tudo, e muito menos, sou o centro 
do mundo. imagina-me dentro do poema, que podem 
apelidar de pop, enquanto entras. poderás, de surpresa, 
encontrar-me em exclamações e interrogações, 
num ruidoso silêncio, sobre a sua utilidade e sobre 
a utilidade de tudo o que já escrevi ou venha a escrever. 
imagino-te a entrar no poema, 
a utilidade de tudo o que já escrevi. 

 [elipse]

2 comentários:

  1. Pois entrando, por aqui, sem pedir licença... pois não há porta... e admirando mais um belo momento, de pura inspiração por aqui... em palavras e imagem...
    O que dizer?... Excepcional, como sempre!... E mais um, na minha lista de preferidos, por aqui...
    Beijinhos! Bom fim de semana!
    Ana

    ResponderEliminar

Obrigado, pelo seu comentário!