Conheço
bem os percursos da falácia, por vezes mascarados de «constatação», outras vezes
encobertos pelo apelo da «relatividade» ou «condicionalismo» filosóficos,
científicos ou populares, cuidadosamente manipulados, quando não se apresentam
pela simples «refutação» ou «negação». Porém, apesar disso, em abono da
verdade, devo dizer que, na aparente liberdade da poesia, também cabe o gostar,
o concordar e o não gostar, o não concordar de quem lê.
quarta-feira, 30 de novembro de 2011
Querido amor-perfeito
Sou algumas frases incompletas,
Um punhado de vocábulos ou palavras,
Um amontoado de letras ou caracteres.
Perguntas firmes fixas e concretas,
No contexto e argumento das minhas lavras,
Longe de sortes, sorteios ou malmequeres.
Para além da conjunção de verbos, existo,
Mais do que pela distribuição de adjectivos,
Para lá da catalogação ou atribuição de um nome.
Há respostas que de que não desisto,
Nem pelos os esgares, escárnios ou olhares ofensivos.
Sou alguns variáveis somatórios, por entre totais,
Por vezes multiplicado por subtracções;
Por vezes dividido em somas caprichosas.
Pergunto, pacientemente, às respostas boçais,
Quais serão as autênticas e originais motivações
Dos menosprezos e depreciação de algumas prosas.
Por vezes sinto que carrego um mundo
E um fardo de palavras que não interessa a ninguém;
Um molho de ideias indecifráveis, para os outros;
Um embrulho de sentimentos, profundo;
Sentidos que não me direccionam ou detém;
Afectos que se contorcem e que eu secundo.
Acredita, há uma linha ténue e transitória,
Numa fronteira que conheço, me visita,
E onde encontro outros, tantos e tão dispersos,
Onde não há derrota ou vitória,
E o empate não se cogita,
Mas a disputa é sucessória.
Onde há palavras invisíveis,
Palavras que não se deixam pintar,
Mas não são insensíveis,
Não se deixam inventar, nascer
E, muito menos, crescer.
Há um lapso de tempo, por acaso,
No limite do arrazoado,
Sem retorno e raso,
Que deixa a imposição vazia:
O tempo do pensamento reservado.
Truanice oportuna:
Hoje sou um cão obediente,
A postura pode fazer uma grande diferença,
E à minha volta tudo se coaduna.
Amanhã não sei, talvez possa ser gente!
Falar sobre YouTube - Queen - The show must go on [...*]
[...*] But it's not the same without you...
terça-feira, 29 de novembro de 2011
Retrato
Consigo
ouvir-te ao longe num tom sério, sem ser grave, e sereno, misturado no marulhar
de um mar que se agiganta. Procuro ver-te ao vivo, sentada, matizada pelo Sol,
dobrada sobre o ventre, a segurar as pernas, como se receasses poder partir sem
vontade. Um livro aberto, pousado ao teu lado, com um carinho que só eu consigo
ver, sobre uma carteira colorida para o proteger da areia, folheado brandamente
pelo vento. O vento, transformado em brisa, que transporta o teu odor, combinado
com o perfume e a maresia. Brisa que me toca, que me afaga e que me arrefece
sem me abrandar.
Deleite de sentidos.
Sinto que me torno denso, enquanto percorro os meus dilemas de pensamento lateral. Penso de novo. Repito-me. Diluir também não me parece uma solução arrazoada; iludir resultará num adiamento do encontro com a verdade.
Fui, por fim, tomado, primeiro pela penumbra, depois pela obscuridade, naturais, entrecortadas pelo potente foco luminoso do gigante das riscas horizontais, farol que serve de guia para uns e que me denuncia, a espaços.
Universo, actuar e tempo. Sobra-me espaço, falta-me espaço e dou espaço.
Deleite de sentidos.
Sinto que me torno denso, enquanto percorro os meus dilemas de pensamento lateral. Penso de novo. Repito-me. Diluir também não me parece uma solução arrazoada; iludir resultará num adiamento do encontro com a verdade.
Fui, por fim, tomado, primeiro pela penumbra, depois pela obscuridade, naturais, entrecortadas pelo potente foco luminoso do gigante das riscas horizontais, farol que serve de guia para uns e que me denuncia, a espaços.
Universo, actuar e tempo. Sobra-me espaço, falta-me espaço e dou espaço.
Endosso
Devo arrastar esta criação que investi.
A minha caminhada vai ao teu encontro,
Ainda que o meu encontro não seja em ti.
Ainda que o meu encontro não seja em ti.
Determino o desejo, resoluto,
Investido em razões indistintas,
Numa ética antiga, de poucas tintas,
Por princípio próprio e absoluto.
Dispõe do tempo que não ocorreu
Em cadência de adivinha.
Junta a tua palavra a minha;
Junta o teu corpo ao meu.
Quero carregar esta obra que desafiei.
A minha jornada avança em teu sentido,
Ainda que o meu sentimento não seja lei.
Ainda que o meu sentimento não seja lei.
Circunstância
Estendo a mão. Conta comigo.
Mesmo sem voz, canto por ti.
Em desembaraço, suspiro e riu,
Quero ser o teu abrigo.
Ao teu lado, franco, aprendi
Como se lima e lustra o brio
Em tempos de castigo.
O imprevisto,
Espero que tenhas visto,
A minha expressão de amor.
Sentei-me ao teu lado,
Depois caminhei feliz
E por fim dancei a gosto.
Estou prevenido e preparado.
Indefinidamente assim o quis,
Quando sempre imaginei o oposto.
Aveiro, 11 de Março de 2009.
segunda-feira, 28 de novembro de 2011
O que tem pouco
Separo-me da hipocrisia, cuidadosamente.
Absorvo o ar mais fresco do fim da tarde,
(Refreio de um peito, macerado, que arde)
Fecho as angústias e planto um sorriso decente.
Fecho as angústias e planto um sorriso decente.
Hoje, talvez seja aceite e entre no rol de “gente”;
Talvez o meu rubor, intenso, não provoque alarde,
Espero que não me descrimine, mascare ou farde.
Espero, sentado, numa estrelada esperança cadente.
Palavras caras são as que não deveria ter pronunciado;
São aquelas que não redigi e as que deveria ter pintado.
Palavras são palavras, mesmo as silenciadas e as
invisíveis.
Não sou um ser perfeito, puro, inocente, ou alado.
Separo-me do fingimento dos outros para, no meu, não ser
encontrado.
Encontro-me no sofrimento das coisas e das palavras
impossíveis.
13 de Dezembro de 2008
domingo, 27 de novembro de 2011
Breviário [XVI]
É noite e aclaro, sem destinatários ou alvos definidos. Defendo
e acredito na Internet livre e, como tal, entendo que a Internet é para todos:
Para os amigos e para os desavindos. A diferença entre eles constata-se e consubstancia-se
nos actos / acções e não puramente no que deixam escrito.
sábado, 26 de novembro de 2011
Crepúsculo maior
Encontro a luz que me ensombra,
Procuro a razão que não quero encontrar.
Quero a Terra firme e o oscilante Mar;
Quero o calor do Sol e a frescura da sombra.
Vou contemplar o que quero ver, sereno;
Olhar e ver, apenas, o que a vista alcança;
Olhar e ver, apenas, o que a vista alcança;
Dançar a dança que não queres dançar em pleno.
Hoje vamos soltar a vontade,
Vamos errar sem destino, sem origem.
Deixa-te possuir pela revigorante vertigem
De ter e de perder a solene veleidade.
Perde os sentidos num recato que se descerra,
Em abraços dos meus braços, sem esquecer,
Que, depois da subida, teremos que descer a serra.
Encontro o boiar sobrevivente do que eu sou,
Encontro o boiar sobrevivente do que eu sou,
Lado a lado com o submergir da caricatura que não quero.
Soltei amarras, a terra e o mar. Sincero, coopero.
Quase tudo numa só cor, nada mudou,
Num bailado, que não é meu, perpétuo e constante;
Quase lembrado numa só memória, é bom,
Sem fobia, abrandar e mergulhar no ensejo reconfortante.
Num bailado, que não é meu, perpétuo e constante;
Quase lembrado numa só memória, é bom,
Sem fobia, abrandar e mergulhar no ensejo reconfortante.
Hoje vamos viver o hoje no tempo certo,
Numa medida que se impõe exacta,
Numa medida que se impõe exacta,
Numa ordem natural que se acata.
Numa corrente de alegria, quero-te perto
E esquecer as horas da noite sem anoitecer.
Anima a paz deste coração em guerra.
Anima a paz deste coração em guerra.
Quero-te, mulher, que posso querer.
Série
A maré, que me
transporta, afasta-me e não pretende que eu exponha e conte,
Ao mar gregário, o
abismo que vejo na sua constante exaltação;
A vontade de unir as
margens, que sinto, sem prepotência ou sufocação.
Simplesmente, segue-me
um rio de risos de estranhas estimas de amigo a monte.
Se sou, indevidamente,
pisado, tento não deixar de ser ponte,
Porque a vida tem
desses reveses que, por vezes, nos toldam a razão.
Pode a palavra mole em
cabeça dura não produzir uma solução
E já o acaso há-de
cantar de galo por um qualquer raiar de dia, no horizonte.
Parte, vagaroso, um
aparte, sem partir, para qualquer parte,
O seu destino,
concreto, é um lugar e não uma inevitável circunstância.
Essa onda enorme é,
apenas, uma vaga estéril, indelicada e sem arte.
Entre dois avilteis
germina um espaço, uma expectativa, uma infância;
Há uma alegria e um
suspiro, para que a esperança não se descarte.
A felicidade está
presente entre os escolhos de um ombro sem importância.
21 de Setembro de
2009.
sexta-feira, 25 de novembro de 2011
Ribamar
Um
resto sombrio de luz difusa propaga-se e matiza
O
céu e os cirros como um imponente vaticínio de glória.
O mar avançou sobre a minha
humedecida memória
E recuou para de novo
investir, numa rotina que enfatiza.
Erguido, elevado, e ao lado
do rochedo que profetiza,
Vejo o céu cor de palha e
laranja, imagem satisfatória
Que não me celebra, nem
difunde qualquer vitória,
Numa revolta apaziguada
que, também, não me ironiza.
O relento e eu, em coerência
inequívoca e cooperante.
Espalham-se anais por
vários quilómetros do mesmo céu,
Com a bruma em unidade
parceira e em forma de véu.
Um acto íntegro de compadecimento,
distinto, distante,
Agarra-se com arrojo a um
último e extremo olhar rasante.
Lograsse ela levar-me como
seu derradeiro troféu…
25 de Novembro
de 2011.
quinta-feira, 24 de novembro de 2011
(Des) apontamentos
Se conheceres a mágoa profunda;
quando conheceres o desespero, ou a cólera, ou a exasperação;
quando sentires que não tens, ou não te dão, qualquer razão;
quando sentires a existência imunda;
quando sentires uma tristeza de origem desconhecida,
como uma contagem final;
quando não encontrares o bem ou o mal.
Se não encontrares sabedoria;
quando não parecerem existir saídas, nem entradas;
quando só encontrares faces carregadas;
quando te irrite qualquer harmonia;
quando não te restar qualquer crença;
quando te fulminar a sentença;
quando os sorrisos te magoarem, mesmo os das crianças.
Se te resta apenas a lembrança;
quando não sentires qualquer querer;
quando não tiveres vontade de viver;
quando não encontrares esperança;
quando não te for possível sonhar:
Acorda, ou pede a alguém para te acordar!
Não te deixes vencer antes do fim.
Acordem-me!
26 de Janeiro de 2009
quarta-feira, 23 de novembro de 2011
E hoje… (XVI)
O toque de despertar difundiu uma melodia, ao critério da estação de
rádio, e umas palavras do locutor, que não procurei entender. Pensei, apenas,
que teria desactivado, no aparelho e inadvertidamente, a função de controlo de
fim-de-semana. Nada de novo. Contudo, um eco de “quarta-feira” repôs a
realidade.
Assisti ao romper
da aurora, ao nascer do Sol e do dia.
Desse ponto, vi
estradas, caminhos, carreiros e atalhos;
Observei o corrupio
de vida, por entre neblinas e orvalhos,
Desligado de
preconceitos e de definições de morfologia.
Consegui aí chegar
e soube sair daquele lugar sem utopia;
Não inquiri o
fundamento dos pinheiros ou dos carvalhos.
Só, por vontade
própria, com sentimentos por agasalhos
E a bondade e
consideração de um acaso de meteorologia.
Pensei na desnecessidade de medidas de tempo minuciosas na natureza.
Felizmente há aranhas que conquistam tranquilidade, satisfação, ou
simplesmente indiferença, na carência ou na abundância, enquanto outras tecem
inveja, ressentimento e ganância.
Esperam-me amigos,
todos reais, genuínos.
Não sei se
conheceremos, verdadeiramente, alguém;
Não me importa que
não me conheça inteiramente, também;
Não me preocupam
quantos “eus” ou quantos destinos;
Não me tumultuam as
protecções de grandes ou pequeninos.
Não invento
simpatizantes ou seguidores de entretém.
Numa iteração, luz verde, no propositado semáforo verde. Logrei
avançar e preencher a rotunda de vários destinos, de várias fatalidades e
sortes, com um rumo traçado e desejado.
De regresso vi o pôr-do-sol, imóvel. Preenchi vários vazios durante
o seu tempo de vida e abri outros, que unirei mais à frente.
Ponto
Se não vale a pena chorar,
Então não vale a pena respirar
O ar poluído, contaminado;
O ar mortiço, quente e húmido,
Que me deixa apático e sufocado.
Deambulo pela casa, com a luz apagada,
Errante, como uma alma penada.
Transporto uma cabeça de gigante,
Um aperto verdadeiro, mas não identificado;
Uma angústia real e galopante.
Sorrio, como um louco, no escuro.
Procuro, tacteando com os pés, o degrau seguro,
A escada que me fará descer, mais ainda,
Na viagem até, e fora, de mim.
Encontro-te, saúdo-te: Bem-vinda!
Passo, lentamente, a mão ignorada
Pelo cabelo que não me abandonou a morada,
É macio e olho, sem volta, em vão.
Sinto o arrepio da luz que me enche,
Vejo como quem não procura uma ilusão.
Quero adormecer antes que as palavras se repitam.
Não quero deixar de sentir as forças que acreditam,
Mas estou cansado de lançar esteios,
De fazer pequenos atilhos, de escorar, de segurar.
Coisas que não passam de remedeios.
Hoje não desço mais, talvez mais tarde…
Deixo os “ses” no patamar, sem alarde.
Decoro o que sinto, sem dificuldade,
No conforto da subida que me refresca.
Transbordo do campo e esvazio-me da cidade.
29 de Julho de 2008.
terça-feira, 22 de novembro de 2011
Juras vãs
Juras
vãs
O céu ficou carregado de interrogações
E a terra ficou inquieta, mas calada.
Parece não existir uma morada,
Um porto franco sem frustrações.
Abertos os espantos e as confusões,
Abertas as feridas da alma profanada,
Derramada a vontade mortificada,
Fecha-se o coração com rústicos grilhões.
Não vês como as palavras nos abandonam
E as frases, proferidas ou silenciadas,
Nos amotinam, dividem e condicionam?
Há sonoridades que não combinam, usadas;
Dentro do afastamento e abandono, aprisionam,
Dentro do afastamento e abandono, aprisionam,
Como armadilhas ardilosas e descaradas.
Aveiro, 30
de Junho de 2008.
E hoje… (XV)
...Atenuo a
carga decisiva dos símbolos, ainda são visíveis os moldes e os modelos. Com
clareza, descrevo a dimensão da unidade da transparência. Não me falta
determinação.
Homógrafos, esses esses da curva, os caracteres e eu, transformado num Atlante de pedra calcária. Exposto a corrosão, carrego nos ombros o peso de vários estratos de dúvidas metódicas, numa mobilidade arquitectónica. A autenticidade destes signos é avalizada no interior, e por desígnio, do difusor: Eu.
Homógrafos, esses esses da curva, os caracteres e eu, transformado num Atlante de pedra calcária. Exposto a corrosão, carrego nos ombros o peso de vários estratos de dúvidas metódicas, numa mobilidade arquitectónica. A autenticidade destes signos é avalizada no interior, e por desígnio, do difusor: Eu.
segunda-feira, 21 de novembro de 2011
Extensão indistinta
Aguardo o meu espaço sobre
a hora,
Não consigo deixar de ouvir
os murmúrios
E as lamentações que me
emolduram.
Vejo o dissipar do dia que
me demora
E pressinto a chegada dos
perjúrios
Que prometem não deixar
presente alheio;
Garantem não faltar
inteireza e receio.
Alguém confessa ser
imparcial; confidente,
Sem guardar segredo. É
porta indiscrição,
Afinal. Continua na
sequência divergente.
Ao lado espera-me a
encantadora calmaria
Com uma estupidez lívida
plasmada
Nos olhos semicerrados de envaidecimentos:
A noite, que iguala o céu à
ria lisa e em agonia,
Quase se prolonga e adia até
à minha morada;
Brinda-me a cor à nução e aos
discernimentos.
21 de Novembro de 2011
“nução nome feminino 1. assentimento; anuência 2. vontade; arbítrio (Do latim *nutiōne-, de nutu-, «movimento afirmativo de cabeça»?) - Porto Editora
Sobrar
Sobrar
Sobram-me os silêncios, os vazios, as ausências
E um rol de nadas, grandes e pequenos.
Sobram-me os demais, os de menos,
Os trejeitos, palmadinhas e clemências.
Os trejeitos, palmadinhas e clemências.
Dádivas graciosas que me completam por fora,
Lembranças de longe, de perto, de hoje e de outrora.
Lembranças de longe, de perto, de hoje e de outrora.
Sobram-me os hiatos, as faltas, outros intervalos
E uma relação de imperfeições, interminável e extensa.
E uma relação de imperfeições, interminável e extensa.
Sobram-me os adjectivos, os paralelismos e a descrença;
Os acessórios, as correspondências e os pálidos halos.
Os acessórios, as correspondências e os pálidos halos.
Por prestígios desditos e arremedos de satisfação,
Sei que não sou recebido com agrado ou aprovação.
Sobram-me os becos sem saída, os atalhos, as ruas
estreitas;
Os sentidos únicos, os obrigatórios e os proibidos.
Os sentidos únicos, os obrigatórios e os proibidos.
Sobram-me os tempos não encontrados e os perdidos;
As fórmulas, os preceitos, as determinações e as
receitas.
Cumprimentos determinados pelo protocolo instituído,
Que me distanciam e me preservam desaparecido.
Sobram-me as insanidades, as dores, as doenças,
A vigília das noites sem sono e dos dias dormentes.
Sobram-me os virtuais amigos, os próximos, os parentes;
Os pródigos em avaliações, julgamentos e sentenças.
Desconheço quem, fielmente, me prometeu o inferno;
Grande filantropo do bem-querer, complacente e fraterno.
Sobram-me as divisões, as desuniões, as despedidas
E um conjunto de separações reais e desagregadas.
Sobram-me as desistências, as soluções indesejadas,
Sobram-me as desistências, as soluções indesejadas,
As capacidades vagas e as duradouras ocasiões perdidas.
O abandono apertado e abreviado faz eco no ermo
De uma vida mansa, ténue, experimentada e a termo.
Sobram-me as censuras veladas e as reprovações ocultas
Em máscaras de felicitações, consentimentos e regozijos.
Em máscaras de felicitações, consentimentos e regozijos.
Sobram-me as fugas, as escapatórias, os esconderijos;
As fiscalizações, as punições, as condenações e as multas.
As fiscalizações, as punições, as condenações e as multas.
Impõem, por uma perspectiva, o rasurar de um sentimento
Que se associa a um estado de espírito, ou de alma, em
lamento.
Sobram-me as sobras, os excessos, os trocos, o que
acabou;
Os gastos, as dívidas, as insolvências e os defesos.
Sobram-me as faltas de razão, os apupos, os desprezos;
O que, teimosamente, querem que eu seja e não sou.
Se eu levar, das memórias, nada mais que uma herança,
Que seja, ainda que saudosa, a figuração da esperança.
Se eu levar, das memórias, nada mais que uma herança,
Que seja, ainda que saudosa, a figuração da esperança.
Aveiro,
30 de Junho de 2008
sexta-feira, 18 de novembro de 2011
Par de modo
Par de modo
E
éramos dois de mãos dadas.
Há o teu olhar terno e provocante,
Há o teu olhar terno e provocante,
Há o
meu coração carente e amante.
Há vontades renascidas e não provadas.
Há vontades renascidas e não provadas.
Depois
do tempo, antes das horas cantadas,
Vens
de tão longe para tão perto, cativante,
E eu
de um fundo para tão alto, radiante,
Antes
do outro tempo, depois das horas dançadas.
O teu
apertão no meu aperto. Depois.
E foi
por mim; foi por ti; foi pelos dois.
Foi um princípio sem fim. Era agora.
Foi um princípio sem fim. Era agora.
Terá
de chegar. Por quem sois?
O
último formado e o primeiro, para mim, embora.
Independência
deverá esperar pela aurora.
quinta-feira, 17 de novembro de 2011
Acto ou efeito
Acto ou efeito
Onde estão os que me amimavam com palavras,
Os que me chamavam, convictos e com insistência?
Os que me chamavam, convictos e com insistência?
Qual foi o meu pecado ou a minha inconveniência?
Serei o efeito ou o acto da poesia das minhas lavras?
Com o grito, interrompi as minhas afadigadas buscas.
Em silêncio, com o sentimento de um vazio,
Não parei no cruzamento das palavras bruscas.
Eu, ordeiro e sem sentido, desapareci,
Aborrecido com a minha insistência e teimosia.
Terei perdido a decência, mas sem hipocrisia.
Era tarde para estar só e tarde para estar ali.
Vagueei pela inconsistência da credulidade.
Falo baixo para as paredes que me aprisionam,
Que me conduzem para fora da cidade.
Afastei-me renegando o meu próprio peso,
Carregado com pesos que não eram os meus.
Suportei o incómodo da chuva e o estorvo do adeus,
Fugi do teu pavor, da tua repulsa, expulso e indefeso.
Não encontrei a ansiada guarida e o leito,
O repouso que me conduzisse à reconversão,
Apenas o teu olhar assustado e de despeito.
Olho à minha volta, demoradamente,
Sem encontrar afectos ou afeiçoados.
Não entendi os horrores e os desagrados,
A irritação, a ira e a cobiça descontente.
Apareço e não sou recebido com agrado,
Trago o incómodo, o despropósito e o excesso.
Acrescento inutilidade e um queixume apoquentado.
Não contento, nem preencho o lugar sem confusão,
Em desencontro com a dimensão de tempo e espaço.
Não te demores com a insignificância do meu traço,
Quando eu sou, tão só e apenas, a tua solidão.
Saudades de mim
Saudades de mim
Há quem coma,
porque nunca se sacia.
Eu não sou activo!
Eu não sou um herói!
Eu não sou atractivo!
Não sendo a lei,
sou quem nunca fui,
nem, de modo algum,
serei.
Razões não tenho,
nem delas me quero
encher.
Mostro sempre ao que
venho
e o que posso perder.
O meu perder é igual
ao teu,
em feitio e forma,
e acontece-te como me
ocorreu.
Como tu, sou um ser
humano,
indivíduo sujeito ao
engano.
Por mais que
desesperes,
porque sempre mudas,
eu não sou quem tu
queres,
nem nunca hei-de ser,
porque logo me estou a
perder.
Perdido,
e mesmo assim,
estou esquecido,
errante deserto de
jardim.
Eu não sou activo!
Eu não sou perfeito!
Mas, eu não sou
passivo!
Não sendo lei,
fui para o
esquecimento
e de lá não voltei.
Razões não posso dar,
se dizes que não as
possuo.
Opinião sem arbitrar
é o pomo de discórdia
que fruo.
O meu poder é igual ao
teu!
Salobro, saloio,
pequeno,
num préstimo que pouco
deu.
Estranho e inútil
atributo,
ele sim, irresoluto.
O pequeno mundo,
dos mal-entendidos,
daqueles que, num
segundo,
me respeitam e
transformam
e logo me subvertem e
transtornam.
Com um pouco de nada
e outro de coisa
nenhuma,
antífrase aprumada,
sou preenchido por uma
lacuna.
Há quem não coma,
porque não tem mesmo o
quê.
Estou cansado!
Estou dorido!
Estou saturado!
Quero deitar-me e
dormir,
mas não um dormir de
fingir.
Dormir e acordar
sossegado,
sem sono,
sem vontade de ficar
fatigado,
sem dono.
Quero ser eu,
apenas eu, em
consciência,
aquele que se perdeu.
Quero repetir-me, longamente,
aquele que se perdeu.
Quero repetir-me, longamente,
alongar-me imensamente.
Quero sorrir sem pagar por isso.
Quero ser eu,
cansado de ser omisso,
tenho saudades de mim.
Quero repetir-me sem fim!
Quero repetir-me sem fim!
Quero poder ser
sincero,
e sê-lo discreto.
e sê-lo discreto.
Gritar, falar e calar
(espero),
sem recurso ou
decreto.
Estou cansado!
Estou amargo!
Estou amargo!
Estou despojado!
Quero deitar-me e
dormir,
mas não um dormir a
fugir.
Dormir e acordar povo,
ser gente,
sem vontade de dormir
de novo,
contente!
Quero ser eu,
não importa que seja
breve;
não importa que seja ateu.
não importa que seja ateu.
Deveria ser já,
a hora nem é boa, nem
é má!
Quero, mais do que
olhar,
ver como é,
e ser mimado como
gosto de afagar.
Que importa se sou
mansarda ou jasmim,
quero repetir-me sem
fim!
Vontade,
quero dormir justo,
num verso junto à
cidade,
no campo, a todo o
custo.
quarta-feira, 16 de novembro de 2011
Só para dizer [XV]:
Ocupado. Descansado
sem descanso e indistinta e aproximadamente delido. Os presentes chavões são ordinariamente
desmoderados. Compaixão. A noite aproveita uma grandeza clara, certa e
vontade de poder conveniente, convincente e deliberativo. Calma, cama!
Sopro
Sopro
Amarro o amuo,
Deixo passar a brisa da indiferença;
O desinteresse pode ser crença.
Olha-me como, quando e quanto queiras.
A partida é a mesma, serena ou atormentada,
A passagem é igual e com barreiras.
O desconhecido não conhece a divisa da chagada.
Seguro a particularidade,
A gavinha que me prende desde a nascença.
A crença pode ser liberdade de indiferença.
A atitude que tarda perde a pose.
A refeição que não se come,
É um ponto sem nó, que me cose,
Apreende um sorvo ou suspiro que tome.
A exclamação em tom de protesto,
Grito abafado pela inércia e apatia,
Ficou destinada a outro, e melhor, dia.
A rima batida, escrava procedente
De um dito popular e democrático,
Cresce na prosa trôpega e crente
Do parco despacho e recurso prático.
Lei, e se tudo for um despojo, ou conjunto, vazio
Ou, ainda, quando muito, um astuto lampejo
De um desgarrado, particular e banal desejo?
Sem temor, indisposto na disposição de calar,
Demoro o silêncio que for necessário
Para que se aclare a arrumação do esgar.
Em defesa acolho, não escolho, o subsistir precário.
Mas esqueçam, não vou ficar prisioneiro
De uma consonância que não é minha,
Agarrado a uma glória que se perde numa entrelinha.
terça-feira, 15 de novembro de 2011
Dois
Dois
Encosta
a tua cabeça no meu peito,
Ouve
o som que o meu coração produz.
Esquece
o brilho que te cega e seduz,
Respira
suavemente e sem trejeito.
O
descanso não pode ser defeito.
A
carícia, sincera e demorada, conduz
Os
sentidos por uma estrada de luz,
Tão
clara, e trilhada ao nosso jeito.
Repousa
a aflição desproporcionada
No
meu colo sereno, manso e quedo.
Faz uma pausa na rotina alvoroçada.
Faz uma pausa na rotina alvoroçada.
Aninha-te,
abraça-me. É cedo!
Recolhe-te,
em mim, na alvorada.
Junta,
justo, o teu ao meu medo.
(A)pós poeira
(A)pós poeira
Há muito
que deixei o apeadeiro
E segui
viagem, sem paradeiro.
Lamento não
ser imenso,
Ainda que a
minha fortuna
(Em todos
os seus significados penso)
Não
dobrasse, de forma oportuna.
Gostava de
não perder a companhia,
Na dura
jornada do dia-a-dia,
Mas não
disponho do dom da ubiquidade,
O que,
também, não é uma infelicidade.
Eu não
hibernei,
Nem, deste pedaço de vida, me apaguei.
Nem, deste pedaço de vida, me apaguei.
De
existência gasta entre sãs ou forçadas alegrias:
Sempre por
uma causa, que não está em causa;
Sempre num
trabalho que não tem horas, nem dias;
Pouco num
repouso, lazer ou curta pausa;
Em muitos
relatos, relatórios, viagens sem ócio,
Porque, não
sou abastado, patrão ou sócio,
Talvez,
hipérbole ou sinónimo forçado, mas forçoso.
Sim, estou
cansado, lento e sem gozo!
E quem
destruiu a minhas ilusões senão eu?
Também
tomei decisões, acreditei. Doeu.
Muitas
vezes acredito na bondade,
Na dádiva
desinteressada de um conhecido,
Na alheia
representação da necessidade,
No andar
trôpego de um individuo perdido.
Outras
vezes não vejo o evidente
Ou iludo-me
com o que é aparente,
Mas isso
não faz de mim um ignóbil torpe.
Desdenho
essas sentenças de morte.
Sim, tenho tristezas, decepções, amarguras.
Sou assaltado por melancolias, exaltações e agruras.
Sinto necessidade de estar só e sem solidão;
Experimento o vazio, a ansiedade e o tormento.
Tenho necessidade de comer, mas fome… Não!
A carência não é defeito e nem sempre é sofrimento.
O aperto e a urgência são medidas imprecisas,
Mas exactas na consciência, por razões indecisas.
Procuro a
aprovação em mim, concluo,
Num
percurso desconhecido que continuo.
Conhecedor,
sem ser versado em coisa alguma,
Das
dificuldades, reflexos e embaraços
Entre a
vontade e a realidade que se consuma
Em hiatos, tropeços, acasos e pedaços.
Em hiatos, tropeços, acasos e pedaços.
Contenta-me
o afago na despedida provisória,
Apraz-me a
lembrança serena e sensória
E, muitas,
vezes fico feliz com um sorriso,
Com um
aceno de um gesto impreciso.
segunda-feira, 14 de novembro de 2011
Regresso sem porfia
Regressa,
ainda que seja em recordação,
A esses que deixei
guardados na soleira,
Ao Sol, para recolher
enxutos. Termos.
Enquanto
alcanço fundamentar, apenas,
Sinceridade,
ainda que agite a sensatez.
Volta
e torna, sem fim, a água do mar
Para
realçar a ficção do ideal formado
E
desvanecido pelo marulhar constante,
Compassado
e aceite antecipadamente;
Para
alcançar a quimera do paradigma
Num
corpo irreal que absorve da Lua
A
reflexão de luz oriunda do Astro-rei.
Tenacidade,
sempre que nos tocamos
Com
os olhares e não estamos juntos;
Quando
as palavras gritam em sossego
Amores
de novas histórias encantadas
E,
por fim, se despem e se colam à pele,
Transformadas
somente em vocábulos.
13 de Novembro de 2011
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