sábado, 16 de janeiro de 2016

até!


[intencionalmente desfocado]



com um passado infiltrado na pele, 
educadamente cega, surda e muda, 
atravessámos o reverso do coração. 
igualmente cinza, fomos, solitários, 
de combustão em combustão, sem 
destino marcado, ardendo num 
mesmo fogo, sobre a polpa do mundo. 
percorremos a imperceptível fronteira 
dos poros, com os lábios sequiosos, 
para alojar os beijos irrequietos 
e bebemos do que viria a ser pó. 
esculpimos o amor que nos abria 
portas, mas não havia razão de ser. 
abotoados pela vida, transitámos, 
secretamente, por quartos e camas 
sem existência, para alojar o afecto. 

a distância que te percorro, a tontura 
que se instala nas palavras inquietas, 
surpreende o tempo, instala-se naquele 
mesmo lugar que permuta a exaustão 
e circula no vazio de todas as coisas
feitas de luz. uma memória desprotegida, 
mas não amarga. 


 [palavras relacionadas]


1 comentário:

  1. um poema que transparece réstia de algum desalento.
    mas o passado já foi, o presente é que merece ser vivido.
    mas gostei do poema.
    um bom fim de semana.
    beijo
    :)

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