quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

estaríamos a


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ouvir o silêncio, tocar no nada, ver o infinito… 
creio que não foi esta a nossa maior loucura, 
quando a solidão nos entrava pelos vidros 
das janelas e nos mostrava o amor num espelho 
embaciado, onde a noite nos cingia o peito. 
horas em que ocupávamos o silêncio dolente 
e, com um único suspiro, o transformávamos 
num grande bulício, onde cabiam todos os termos 
dos afectos que produziam atalhos e pontes, 
em segundos, e que abeiravam todo o universo. 
talvez não devêssemos ter confiado as nossas 
dores ao labirinto do destino que confunde 
as palavras e os hiatos de tempo disponível, 
que nos deixou de mãos enlutadas e ociosas. 
mas não foi exactamente assim que fiquei. 
o meu avô partiu e o mar, para e não por mim, 
continuou a parir o poente de onde me resgato 
todos os dias para arrumar sonhos e factos, 
ouvir o silêncio, tocar no nada, ver o infinito… 


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1 comentário:

  1. Está fantástica, esta imagem, com uma incrível iluminação de final de dia... muitíssimo bem conjugada, com as tuas palavras, transbordantes de um mix de emoções e sentimentos.
    Um poema muitíssimo bem construído!
    Beijos
    Ana

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